ONG acusa Taleban de executar sumariamente ao menos cem supostos seguidores do EI-K

Human Rights Watch diz que radicais afegãos realizam incursões noturnas em busca de supostos seguidores do grupo extremista

Uma investigação conduzida pela ONG Human Rights Watch (HRW) aponta que o Taleban, no poder desde agosto de 2021 no Afeganistão, é responsável por inúmeros desaparecimentos forçados e pelas execuções sumárias de ao menos cem indivíduos supostamente ligados ao Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), cujos corpos foram encontrados na província de Nangarhar.

“As forças do Taleban realizaram operações de busca abusivas, incluindo ataques noturnos, contra moradores que acusam de abrigar ou apoiar membros do grupo armado Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), afiliada afegã do Estado Islâmico (EI)”, diz relatório da HRW, segundo o qual foram entrevistas 63 pessoas, sendo 42 pessoalmente, nas províncias de Nangarhar e Kunar, e 21 por telefone.

Durante as incursões noturnas, “as forças do Taleban espancaram moradores e detiveram homens que acusam de serem membros do EI-K sem processo legal ou sem revelar seu paradeiro às suas famílias”. O número de pessoas sumariamente executadas, de acordo com o documento, é incerto. Há casos de indivíduos baleados, enforcados e decapitado, além de episódios de desaparecimento forçado.

Somente em um canal esvaziado em Nangarhar foram localizados mais de cem corpos, colocados ali entre agosto de 2021, o primeiro mês dos talibãs no poder, e abril de 2022.  “As autoridades do Taleban parecem ter dado liberdade às suas forças para deter, desaparecer e matar supostos militantes“, afirma a ONG.

Combatentes do Estado Islâmico-Khorasan no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)

O documento afirma que os corpos “mostravam evidências de tortura e execuções brutais: alguns tinham membros perdidos, cordas em volta do pescoço ou tinham sido decapitados ou tinham gargantas cortadas”. De acordo com profissionais de saúde de Nangahar, foram encontrados 118 corpos em toda a província entre agosto e dezembro do ano passado.

No relatório, os atos atribuídos ao Taleban são classificados como crimes de guerra. “Lei humanitária internacional, ou as leis da guerra, que se aplicam ao conflito armado entre o Taleban e o EI-K, obriga todas as partes a tratar todos os detidos com humanidade”, diz o texto.

 “As forças do Taleban realizaram repetidamente execuções sumárias e outros crimes de guerra contra pessoas sob sua custódia e ainda não responsabilizaram os responsáveis”, afirmou Patricia Gossman, diretora associada da Ásia da Human Rights Watch.

Por que isso importa?

Embora tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no Afeganistão desde 2015 e surgiu na esteira da criação do Estado Islâmico (EI) do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.

Agora que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.

Os ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182 pessoas na região do aeroporto de Cabul.

No início de outubro de 2021, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25 pessoas mortas e cerca de 50 feridas.

Não há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região de Khorasan, originalmente parte do Irã.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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