O governo do Paquistão intensificou a deportação de refugiados afegãos nos últimos meses, colocando em alerta a comunidade internacional para a situação de ativistas de direitos das mulheres que buscaram abrigo no país. Desde setembro de 2023, mais de 800 mil afegãos foram enviados de volta ao Afeganistão, onde o regime do Taleban impõe severas restrições à participação feminina na sociedade. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).
A campanha, chamada “Repatriação de Estrangeiros Ilegais”, tem como objetivo remover cidadãos afegãos sem status legal no Paquistão. No entanto, advogados e organizações humanitárias alertam que muitas dessas deportações incluem mulheres que trabalharam na defesa de direitos humanos e que, ao retornarem, podem enfrentar prisão, tortura ou até mesmo a morte.
“Mandar ativistas de volta ao Afeganistão, onde elas provavelmente serão submetidos à tortura nas mãos do regime talibã, as colocaria em maior risco”, afirmou o advogado Osama Malik, especializado em direito de refugiados.

As autoridades paquistanesas, porém, se eximem de responsabilidade. “Não há uma categoria específica para ativistas entre os que estão sendo deportados“, disse um funcionário do governo, que pediu anonimato. “A responsabilidade de hospedar refugiados afegãos não deve recair somente sobre o Paquistão, pois outros países também podem acomodá-los”, acrescentou.
O governo dos EUA e nações europeias vêm sendo pressionados a acelerar a concessão de asilo a essas mulheres, mas até agora poucas medidas concretas foram anunciadas. “É lamentável que nenhum país ocidental tenha se manifestado para permitir imediatamente que essas ativistas viajem para seus países”, afirmou Malik.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) expressou preocupação com as deportações em andamento, destacando que pessoas em situação de vulnerabilidade precisam de proteção internacional.
“O Acnur está especialmente preocupado com os afegãos que correm risco de danos ao retornar, como minorias étnicas e religiosas, mulheres solteiras, jornalistas, ativistas de direitos humanos e membros de profissões artísticas, como músicos”, disse o porta-voz da agência no Paquistão, Qaiser Khan Afridi.
Enquanto as deportações continuam, cresce o temor de que a falta de apoio internacional deixe essas mulheres sem alternativas seguras, sob ameaça inclusive de morte.
“A comunidade internacional deve entender que deportar ativistas de direitos humanos, particularmente mulheres, é uma ameaça direta às nossas vidas, e uma ação imediata é necessária para nos proteger”, alertou a ativista Maria Noori, uma das afegãs ameaçadas de deportação.