Mulheres afegãs têm utilizado as redes sociais para manifestar sua oposição ao mais recente decreto de repressão de gênero do Taleban no Afeganistão, o qual o governo Biden afirma ter a intenção de eliminá-las da vida pública. As informações são da CBS News.
Mulheres dentro e fora do território afegão têm compartilhado vídeos emocionantes cantando como uma forma de protesto contra as novas leis do grupo extremista, que proíbem mulheres e meninas de falar ou mostrar seus rostos em público. A medida parece implementar oficialmente a interpretação mais rigorosa da lei islâmica no país, a Sharia.
De acordo com a reportagem, o Artigo 13 da lei de 114 páginas, implementada pelos líderes talibãs no Afeganistão no mês passado, determina que, ao sair de casa, uma mulher deve “esconder sua voz, rosto e corpo”. O governo Biden afirmou que essa legislação visa eliminar completamente a presença das mulheres na vida pública afegã e expressou crescente insatisfação com o regime talibã, que reassumiu o poder em agosto de 2021, após a retirada tumultuada das forças dos EUA e de seus aliados.
A enviada especial dos EUA, Rina Amiri, manifestou preocupação com a “lei da moralidade” do Taleban, que visa excluir as mulheres da vida pública no Afeganistão. Em uma publicação nas redes sociais, ela destacou que o apoio ao povo afegão permanece firme, mas alertou que “a paciência com o regime do talibã está se esgotando”.
Diante da repressão contínua do Taleban aos direitos humanos, ativistas no Afeganistão, já sob forte vigilância, começaram a postar vídeos nas redes sociais, onde cantam e criticam a lei como opressiva e sem sentido.
A reportagem entrevistou três mulheres afegãs que participam de protestos contra a nova lei do Talibã. Elas disseram que continuarão a resistir, pedindo que a comunidade internacional pressione o regime. As mulheres, cujas identidades são ocultadas por segurança, enfrentam assédio e violência por defender seus direitos. Zuhal, uma das entrevistadas, afirmou que, apesar das dificuldades, as mulheres no Afeganistão “não se calarão e continuarão lutando”.
Ativistas internacionais, como a jornalista iraniana Masih Alinejad, se juntaram ao apoio aos protestos afegãos. Alinejad publicou um vídeo cantando uma canção afegã e apoiou a hashtag que afirma: “A voz de uma mulher não é privada.”
Repressão de gênero
Após agosto de 2021, com o colapso do governo afegão legítimo, o Taleban, que prometeu moderação, se mostrou mais interessado e engajado em enterrar qualquer resquício de progresso democrático. “Ninguém vai nos dizer quais devem ser nossas leis”, disse em entrevista em março de 2022 o mulá Nooruddin Turabi, um dos fundadores do grupo. “Seguiremos o Islã e faremos nossas leis no Alcorão”.
Segundo um relatório da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado em junho do ano passado, as mulheres enfrentam proibições que abrangem a maioria dos setores de trabalho fora de casa. Além disso, têm restrições quanto a frequentar espaços públicos como banhos, parques e academias. Elas são obrigadas a usar vestimentas longas e escuras que cobrem o rosto e não podem sair de casa sem uma razão específica ou sem a presença de um tutor masculino.
Em 2023, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) destacou que a crise econômica atinge as mulheres de forma desproporcional no Afeganistão. Segundo a entidade, o emprego feminino teve redução de 25% no quarto trimestre de 2022 em relação ao segundo trimestre de 2021, últimos meses antes de o Taleban assumir o poder. Já os níveis de emprego masculino caíram 7% no mesmo período.