Taleban ordena que taxistas mudem a cor dos veículos e causa revolta na categoria

Motoristas alegam que não têm dinheiro para alimentar as famílias, quem dirá gastar com pintura veicular

Taleban ordenou que todos os motoristas de táxi no Afeganistão troquem o tradicional amarelo de seus veículos para o azul-turquesa. A medida, dizem as autoridades fundamentalistas, tem como objetivo o combate ao crime. As informações são da rede Radio Free Europe.

O decreto representa mais prejuízo aos profissionais da categoria, que viram sua clientela cair acentuadamente com a restrição da liberdade de movimento das mulheres em meio a um cenário de catástrofe econômica e social.

A justificativa, segundo os talibãs, é a de que veículos se passando por táxis têm sido usados ​​em sequestros e roubos nos últimos anos. “Se tivermos uma cor específica para todos os táxis, isso ajudará a eliminar os casos de sequestro, outros crimes e insegurança”, disse nesta semana o vice-ministro do Interior, Mohammad Nabi Omari.

Segundo a autoridade, a mudança também representa uma regulamentação da indústria de táxi no país, já que muitos motoristas não têm permissão para trabalhar na função e, dessa forma, acabam por driblar os impostos. O transporte irregular de passageiros é inclusive uma forma de renda extra, já que muitos afegãos usam seus carros particulares como táxis.

Veículos padronizados na cor azul-turquesa reduzirão ações criminosas, segundo o Taleban (Foto: Centro de Mídia e Informações Governamentais do Afeganistão/Divulgação)

Omari acrescentou que todos os táxis deverão ser submetidos a uma inspeção técnica. Depois dela, os proprietários receberão uma nova licença de operação.

Ouvido pela reportagem, um taxista identificado como Hamidullah disse estar preocupado com a nova medida. Ele alega não ter condições de pagar por uma pintura, que diz custar cerca de US$ 300 (quase R$ 1,5 mil). Um valor astronômico para os afegãos, que têm renda per capita de US$ 368, segundo dados do Banco Mundial (pouco mais de R$ 1,8 mil).

Enquanto isso, a população afegã segue fazendo críticas aos governantes insurgentes por se concentrarem em questões triviais, deixando de lado problemas pontuais, como alto desemprego e insegurança alimentar.

“Isso é ridículo porque a cor amarela é universalmente associada aos táxis”, disse Arash, morador de Cabul. “Isso não é necessário. Pessoas e taxistas não podem pagar. O Taleban deve se concentrar na prestação de serviços para que a vida das pessoas possa melhorar”.

Mesa vazia

Imediatamente depois que o Taleban assumiu o poder, a economia afegã entrou em colapso, acelerando a queda do país para a pobreza. Com uma população estimada pela ONU em cerca de 40 milhões e PIB (produto interno bruto) de US$ 14,3 bilhões em 2022, o Afeganistão está entre os países com a menor renda per capita do mundo, com cerca de 85% da população estimada vivendo abaixo da linha da pobreza.

Quase 20 milhões de afegãos não sabem se terão comida no prato no dia seguinte, enquanto pelo menos 700 mil perderam seus empregos no país desde a tomada do poder pelo Taleban em agosto de 2021. Agricultura, serviço público e setores de construção foram os mais severamente afetados, estimou o relatório, que destacou o apagamento dos direitos das mulheres e meninas como outra questão dramática. 

“Como posso pagar tanto dinheiro quando estou preocupado em como alimentar minha família?”, questionou Hamidullah. “Se o Taleban quer que pintemos nossos táxis, eles devem pagar por isso”, acrescentou o taxista.

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