O Taleban classificou como “inaceitável” qualquer tentativa dos Estados Unidos de recuperar o controle sobre os fundos do banco central do Afeganistão que foram congelados após a retomada do país pelo grupo em 2021. A declaração foi feita pelo Ministério da Economia afegão no sábado (1º) em resposta a um relatório divulgado pelo inspetor-geral especial dos EUA para a reconstrução do Afeganistão. A informação foi publicada pela rede Voice of America (VOA).
Após a retirada das tropas americanas e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) em agosto de 2021, o então presidente dos EUA, Joe Biden, determinou o bloqueio de cerca de US$ 7 bilhões em ativos do banco central afegão mantidos por Washington. Países europeus também congelaram aproximadamente US$ 2 bilhões.

Em 2022, Washington transferiu metade desses recursos, US$ 3,5 bilhões, para um fundo criado na Suíça, supostamente destinado a financiar assistência humanitária no Afeganistão sem que o Taleban tivesse acesso ao dinheiro. No entanto, nenhum repasse foi feito até agora. A outra metade permaneceu nos Estados Unidos para ser utilizada como indenização em ações judiciais movidas por famílias das vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001.
Segundo o inspetor, os recursos congelados nos EUA cresceram para quase US$ 4 bilhões devido aos juros acumulados. O relatório sugere que, no contexto da revisão da ajuda externa promovida pelo governo americano, o Congresso pode considerar a possibilidade de retomar a custódia desses ativos.
O documento reforça que o Taleban não tem direito legal sobre os fundos, já que não é reconhecido como governo legítimo do Afeganistão e está na lista de organizações terroristas globais designadas pelos EUA, além de estar sujeito a sanções americanas e da ONU (Organização das Nações Unidas).
As autoridades afegãs rejeitam esses argumentos e afirmam que a retenção dos ativos prejudica a economia nacional. O Taleban voltou a exigir a liberação de mais de US$ 9 bilhões congelados no exterior, alegando que os recursos pertencem ao povo afegão e são essenciais para a estabilidade econômica e monetária do país. “Qualquer ação dos Estados Unidos relacionada à alocação, uso ou transferência dessas reservas é inaceitável”, declarou o grupo em comunicado.
O relatório dos EUA também apontou que Washington já gastou mais de US$ 3,7 bilhões no Afeganistão desde a retirada de suas tropas, sendo a maior parte destinada a agências da ONU e outras organizações que prestam assistência humanitária no país. Outros US$ 1,2 bilhão ainda podem ser liberados no futuro.
Os talibãs, no entanto, contestam a efetividade dessa ajuda e dizem que os investimentos dos EUA não tiveram impacto significativo na economia local. O governo norte-americano, por outro lado, afirmou que, apesar de evitar um colapso econômico total, o apoio do país não impediu o Taleban de continuar violando direitos humanos e adotando políticas repressivas.
O relatório critica a crescente restrição de direitos imposta pelo Taleban desde que voltou ao poder. O grupo baniu meninas do ensino médio e universidades, impôs severas limitações à presença feminina em locais públicos e restringiu a liberdade de imprensa. Também proibiu mulheres de viajar desacompanhadas e exigiu o uso obrigatório do véu integral em público.
O Taleban justifica essas medidas como compatíveis com a lei islâmica (Sharia) e as tradições afegãs, rejeitando as críticas da comunidade internacional como interferência em assuntos internos do país.