Taleban usa violência para dispersar protesto contra veto a mulheres no estudo superior

Há relatos de que mulheres que participavam do protesto e jornalistas que faziam a cobertura foram presos pelos radicais

Taleban anunciou na terça-feira (20) que as mulheres estão proibidas de frequentar a universidade no Afeganistão. Nesta quinta (22), cerca de 50 delas foram às ruas da capital Cabul protestar contra a medida. Os radicais que governam o país reagiram com violência para dispersar a multidão, impedindo a conclusão da manifestação. As informações são da rede Radio Free Europe (RFE).

O objetivo das mulheres era chegar à entrada da Universidade de Cabul, a maior e mais prestigiada do país. Porém, um grande número de agentes de segurança estatais se reuniu para interceptar o protesto, o que as fez mudar o trajeto. Ainda assim, os dois grupos se encontraram, com relatos de espancamento por parte dos talibãs contra as afegãs.

Além da violência física, as mulheres que participavam do protesto e jornalistas que faziam a cobertura foram detidos pelos radicais. Uma testemunha, Shahla Arefi, disse que havia inclusive mulheres a serviço do Taleban infiltradas na passeata para prender as participantes.

Embora não tenha se manifestado sobre o protesto, Nida Mohammad Nadim, ministro responsável pelo ensino superior no Afeganistão, defendeu o veto sob dois argumentos. O primeiro, o de que havia o risco de que homens e mulheres se misturassem nas universidades. O segundo, de que o currículo contém matérias que violam os princípios islâmicos.

Afegãs em centro de aprendizado acelerado na província de Maidan Warda (Foto: Azizullah Karimi/Unicef)

A proibição gerou reações imediatas de repúdio de nações ocidentais. Estados Unidos e Reino Unido se manifestaram através de seus representantes na ONU (Organização das Nações Unidas) e condenaram a medida.

Países de maioria muçulmana também contestaram a medida, entre eles Turquia e Arábia Saudita. O ministro turco das Relações Exteriores, Mevlut Cavusoglu, afirmou que a decisão “não é islâmica nem humana”. Já o Ministério saudita das Relações Exteriores manifestou “espanto e pesar” com o ato, dizendo ainda que ele “surpreendeu todos os países islâmicos”.

Quem fez a declaração mais dura foi Annalena Baerbock, ministra das Relações Exteriores da Alemanha. Falando em nome dos países do G7, grupo dos países mais industrializados do mundo, ela afirmou que “a perseguição de gênero pode constituir um crime contra a humanidade sob o Estatuto de Roma, do qual o Afeganistão é um Estado-parte”.

Por que isso importa?

A vida das mulheres tem sido particularmente dura no Afeganistão. Aquelas que tinham cargos no governo afegão antes da ascensão talibã seguem impedidas de trabalhar, e a cúpula do governo que prometia ser inclusiva é formada somente por homens. A perda do salário por parte de muitas mulheres que sustentavam suas casas tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.

Na educação, o governo extremista mantém fora da escola cerca de três milhões de meninas acima da sexta série, sob o argumento de que as escolas só serão reabertas quando os radicais tiverem a certeza de um “ambiente seguro”.

Mulheres também não podem sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Para lembrar as afegãs de suas obrigações, os militantes ergueram cartazes em algumas áreas para informar os moradores sobre as regras. Em partes do país, as lojas estão proibidas de vender mercadorias a mulheres desacompanhadas.

Há ainda um código de vestimenta para as mulheres, forçadas a usar o hijab quando estão em público. Como forma de protestar, mulheres afegãs em todo o mundo iniciaram um movimento online, postando fotos nas redes sociais com tradicionais roupas afegãs coloridas, sempre acompanhadas de hashtags como #AfghanistanCulture (cultura afegã) e #DoNotTouchMyClothes (não toque nas minhas roupas).

A repressão de gênero é um das razões citadas pelas nações de todo o mundo para não reconhecerem o Taleban como governantes de direito do Afeganistão. Assim, o país segue isolado da comunidade internacional e afundado na pobreza. O reconhecimento internacional fortaleceria financeiramente um país pobre e sem perspectiva imediata de gerar riqueza.

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