Tiro que matou jornalista da Al Jazeera foi disparado por forças israelenses, diz ACNUDH

Shireen Abu Akleh foi morta no dia 1'1 de maio com um tiro na cabeça. Investigação indica que não havia tiroteio ocorrendo na área

As forças israelenses estão por trás do tiro que matou a jornalista da agência catari Al Jazeera Shireen Abu Akleh na Cisjordânia. A afirmação foi feita nesta sexta-feira (24) pelo escritório de direitos humanos da ONU (ACNUDH), que descartou como possível causa um disparo palestino indiscriminado, como havia se especulado.

Akleh, uma experiente jornalista de televisão familiarizada com reportagens nos Territórios Palestinos Ocupados, foi morta em 11 de maio, quando tentava relatar uma operação de prisão pelas forças de segurança israelenses e confrontos no campo de refugiados de Jenin, no norte da Cisjordânia ocupada.

“Mais de seis semanas após o assassinato da jornalista Shireen Abu Akleh e a lesão de seu colega Ali Sammoudi em Jenin, em 11 de maio de 2022, é profundamente perturbador que as autoridades israelenses não tenham conduzido uma investigação criminal”, disse a porta-voz do ACNUDH Ravina Shamdasani.

Após a investigação do próprio ACNUDH sobre o incidente, Shamdasani acrescentou que “esse monitoramento de nosso escritório é consistente com muitas descobertas de que os tiros que a mataram vieram das forças de segurança de Israel”.

Rejeitando essa conclusão, um comunicado emitido pela missão israelense em Genebra insistiu que ainda não era possível concluir quem foi o responsável, tendo em vista a “recusa da Autoridade Palestina em realizar uma investigação conjunta e entregar a bala”.

Funeral da jornalista palestina Shireen Abu Akleh (Foto: Wikimedia Commons)
Momentos finais

Falando a jornalistas em Genebra, Shamdasani descreveu os momentos finais de Akleh, com seu colega Ali Sammoudi.

“Por volta das seis e meia da manhã, quando quatro dos jornalistas entraram na rua que levava ao acampamento, usando capacetes à prova de balas e coletes à prova de balas com a inscrição ‘PRESS’ (Imprensa), várias balas aparentemente certeiras foram disparadas contra eles da direção das forças de segurança de Israel. Uma única bala feriu Ali Sammoudi no ombro e outra única bala atingiu Abu Akleh na cabeça e a matou instantaneamente”.

Destacando como a investigação do ACNUDH seguiu a metodologia usada em muitas situações de outros países, Shamdasani explicou que não havia evidência de atividade de palestinos armados nas proximidades.

Segundo ela, Akleh e seus colegas “procederam lentamente para tornar sua presença visível para as forças israelenses posicionadas na rua. Nossas descobertas indicam que nenhum aviso foi emitido e nenhum tiroteio estava ocorrendo naquele momento e naquele local”.

A porta-voz reforçou: “Inspecionamos fotos, vídeos, materiais de áudio, visitamos a cena, consultamos especialistas e analisamos as comunicações oficiais; entrevistamos pessoas que também estavam no local quando Abu Akleh foi morta. Com base nesse monitoramento muito vigoroso, descobrimos que os tiros que mataram Abu Akleh vieram das forças de segurança de Israel e não de disparos indiscriminados por palestinos armados”.

Depois que a jornalista foi baleada, “várias outras balas individuais foram disparadas quando um homem desarmado tentou se aproximar de seu corpo e de outro jornalista ileso abrigado atrás de uma árvore”, continuou a funcionária do ACNUDH. “Os tiros continuaram a ser disparados quando esse indivíduo finalmente conseguiu levar o corpo de Abu Akleh”.

A alta comissária da ONU para os direitos humanos, Michelle Bachelet, pediu às autoridades israelenses que abram uma investigação criminal sobre o assassinato de Abu Akleh e sobre todos os outros assassinatos e ferimentos graves cometidos por forças israelenses na Cisjordânia. Desde o início do ano, o ACNUDH disse ter verificado que as forças de segurança de Israel mataram 58 palestinos na Cisjordânia, incluindo 13 crianças.

“A lei internacional de direitos humanos exige investigação imediata, completa, transparente, independente e imparcial sobre todo uso de força que resulte em morte ou ferimentos graves”, disse a Shamdasani. “Os autores devem ser responsabilizados”.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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