Uma década de guerra brutal deixou quase 307 mil civis mortos na Síria, diz ONU

Dados englobam pessoas mortas como resultado direto de ações de guerra e não inclui vítimas da falência dos serviços essenciais

Entre 1º de março de 2011 e 31 de março de 2021, 306.887 civis foram mortos na guerra em curso na Síria. Trata-se da estimativa mais alta até agora de mortes relacionadas a conflitos no país, de acordo com um novo relatório publicado pelo ACNUDH (Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos) na terça-feira (28).

“Os números de vítimas relacionadas ao conflito neste relatório não são simplesmente um conjunto de números abstratos, mas representam seres humanos individuais”, disse a alta comissária da ONU para os Direitos Humanos Michelle Bachelet, em um comunicado à imprensa. “O impacto da morte de cada um desses 306.887 civis teria um impacto profundo e reverberante na família e na comunidade a que pertenciam”.

O relatório documenta 143.350 mortes de civis em detalhes. Outras 163.537 mortes de civis foram avaliadas, a fim de produzir a nova estimativa.

“O trabalho das organizações da sociedade civil e da ONU no monitoramento e documentação de mortes relacionadas a conflitos é fundamental para ajudar essas famílias e comunidades a estabelecer a verdade, buscar responsabilidade e soluções eficazes”, disse Bachelet. “Esta análise também dará uma noção mais clara da gravidade e escala do conflito”.

Escombros de escola onde vivem 16 famílias em Damasco, na Síria (Foto: Divulgação/Ocha)

O relatório também desagrega os dados das mortes documentadas, incluindo idade, sexo, ano, província, os prováveis ​​responsáveis ​​e o tipo de arma usada.

A estimativa de 306.887 se traduz em uma média de 83 civis sofrendo uma morte violenta todos os dias durante a década – representando “um impressionante 1,5% da população total”, segundo o relatório.

Também suscita sérias preocupações quanto ao “não cumprimento das normas do Direito Internacional Humanitário sobre a proteção de civis por parte das partes em conflito”.

“Deixe-me ser clara: estas são as pessoas mortas como resultado direto de operações de guerra. Isso não inclui os muitos, muitos outros civis que morreram devido à perda de acesso a saúde, alimentação, água potável e outros direitos humanos essenciais, que ainda precisam ser avaliados”, disse a alta comissária.

Trabalho continua

O relatório estabeleceu os desafios em registrar vítimas durante um conflito, além do risco imediato para quem tenta acessar os locais dos ataques.

“Onde os atores da sociedade civil realizam o registro de vítimas, os esforços podem colocar os próprios registradores em risco. Eles também enfrentam vários desafios em seus esforços de documentação, incluindo o colapso de suas redes habituais de informações à medida que as pessoas estão em movimento, deslocadas ou em áreas onde há um desligamento geral de informações; o acesso limitado ou inexistente a dados móveis, Internet e eletricidade para coletar e transmitir informações; limitações em seus movimentos; e vigilância”, afirma o relatório.

As informações referentes a diferentes períodos ao longo dos dez anos cobertos foram obtidas de vários centros locais de direitos humanos, bem como de registros governamentais e do próprio ACNUDH.

O processo colocou “indivíduos, suas famílias e comunidades no centro, garantindo que os mortos não sejam esquecidos e que as informações estejam disponíveis para processos relacionados à responsabilização e acesso a uma série de direitos humanos”, afirma o relatório.

“A menos e até que o conflito termine, há um risco contínuo de mortes de civis. É, portanto, fundamental que todos os Estados, as Nações Unidas e a sociedade civil usem todos os meios disponíveis para acabar com o conflito e apoiar a transição para a paz.”

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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