Desinformação alimenta medo e pode levar à violência nos EUA, segundo autoridade

Apesar de as ameaças serem reais, governo admite que riscos têm se tornado cada mais imprevisíveis devido às campanhas de fake news vindas de fora

A constante disseminação de desinformação nos Estados Unidos, coordenada por serviços de inteligência estrangeiros e organizações extremistas, “está funcionando” e tem gerado medo na população. Isso pode levar a atos violentos por parte dos próprios cidadãos norte-americanos, segundo um alto funcionário do Departamento de Segurança Interna (DHS, da sigla em inglês). As informações são da rede Voice of America (VOA).

Segundo John Cohen, oficial sênior do Escritório de Inteligência e Análise do DHS, apesar das contínuas campanhas de notícias falsas, ameaças atuais corroboram com o mais recente boletim antiterrorismo do departamento emitido no mês passado, que surge a poucas semanas das festas de fim de ano e próximo da data em que a invasão do Capitólio completa um ano, no dia 6 de janeiro.

De acordo com o comunicado, o país estaria diante de “uma ameaça significativa” de extremistas locais entre o final de 2021 e o começo de 2022. “A ameaça é mais volátil”, disse Cohen durante um fórum virtual sobre extremismo, acrescentando: “Fizemos progresso. Continuamos a progredir no dia a dia, mas ainda temos um longo caminho a percorrer”.

Manifestantes pró-Trump fora do prédio do Capitólio dos EUA em janeiro de 2021, antes da invasão (Foto: Tyler Merbler/WikiCommons)

A autoridade também observou que os riscos têm se tornado cada mais imprevisíveis devido a “um nível significativo” de atividades executadas por organizações de inteligência de fora do país, fortalecidas por implacáveis ​​campanhas de desinformação descritas como “persistentes e altamente sofisticadas”.

Cohen diz que tais incertezas vêm de narrativas promovidas por atores de ameaças que encontram caminho no ecossistema da mídia tradicional, onde acabam ampliadas por figuras públicas, redes sociais e até pelo governo.

“O objetivo deles pode ser político ou baseado em classificações”, pondera Cohen. “Mas, no ambiente de ameaça atual, quanto mais amplamente essas narrativas forem compartilhadas e disseminadas, maior será a probabilidade de que sejam consumidas por um indivíduo que as usará como justificativa para a violência”.

O secretário de Segurança Interna, Alejandro Mayorkas, também fez um alerta na terça-feira (14) sobre o que considera ameaças “sérias e significativas” da propagação da desinformação.

“Falsas narrativas representam uma ameaça à nossa segurança”, disse Mayorkas durante fala no Fórum Tecnológico da Bloomberg. “Precisamos que nossos líderes se levantem e lutem contra isso, porque as palavras dos líderes importam um pouco. Eles podem ser muito influentes no discurso público”.

Pandemia amplificou desinformação

Em março de 2020, no início da onda global da Covid-19, altos funcionários do Departamento de Estado declararam que Rússia, China e Irã estavam reunindo esforços para amplificar as campanhas de desinformação uns dos outros sobre as origens e a disseminação do coronavírus, especialmente em redes sociais como o Facebook.

Segundo autoridades e analistas dos EUA, esse tipo de atividade de disseminação de fake news continuou a ganhar popularidade, com uma variedade de adversários focados em usar tais questões de saúde pública para alcançar e influenciar cidadãos norte-americanos vulneráveis.

“Você pode reunir público para fazer algo horrível ou mudar uma eleição ou esse tipo de coisa, o que é um tipo de campanha duradoura”, disse Clint Watts, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisa em Política Externa.

Cohen observa que abrir os olhos da população para esse tipo de operação de influência tem sido uma tarefa difícil.

“Tentar educar o público de que, dependendo de onde obtiverem suas informações eles podem estar sendo especificamente alvos de desinformação, é o maior desafio que enfrentamos no momento”, disse o oficial do DHS. “Para um subconjunto da nossa população, eles não vão acreditar no que o governo está dizendo a eles”.

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