Em meio a impasse, Turquia diz que prazo é apertado para aprovar a Suécia na Otan

Porta-voz do presidente Erdogan cita cúpula da aliança e reforça exigências para que o aval aos escandinavos saia até junho

O governo da Turquia aumentou a pressão para que a Suécia aprove as exigências de Ancara em troca do aval ao ingresso dos escandinavos na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). De acordo com Ibrahim Kalin, porta-voz do presidente turco Recep Tayyip Erdogan, o tempo para que um acordo seja alcançado é apertado. As informações são da agência Al Jazeera.

“Estocolmo está totalmente empenhada em implementar o acordo que foi assinado no ano passado em Madrid”, disse Kalin. “Mas o país precisa de mais seis meses para redigir novas leis que permitam ao sistema judicial implementar as novas definições de terrorismo”.

Tanto a Suécia quanto a Finlândia têm planos de se juntar à Otan, anunciados em maio de 2022. Os dois países abandonaram suas políticas de longa data de não alinhamento militar e solicitaram a adesão após as tropas de Vladimir Putin invadirem a Ucrânia em fevereiro.

“Temos um problema de tempo se eles quiserem ingressar na Otan antes da cúpula da Otan em junho”, declarou Kalin, que depois citou as eleições turcas de maio e a necessidade de que o aval aos suecos tenha aprovação parlamentar. “Dado que o parlamento [turco] entrará em recesso algum tempo antes das eleições, você está olhando para um período de dois meses a dois meses e meio para fazer tudo”.

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, março de 2014 (Foto: Divulgação/Anadolu/Kayhan Ozer)

Enquanto 28 dos 30 Estados da aliança ratificaram as adesões, a Turquia segue frustrando os planos dos nórdicos devido às alegações de que ambos dão abrigo a “terroristas”, referindo-se a integrantes das milícias PKK e YPG (Unidade de Proteção do Povo), grupos considerados extremistas inclusive pelos EUA e a União Europeia (UE). Embora não tenha dado o aval, a Hungria já sinalizou que o fará.

Segundo a Turquia, a Suécia precisa adotar uma postura mais clara sobre o que Ancara considera “terrorismo”, referindo-se à tolerância sueca com indivíduos acusados de serem militantes das duas milícias curdas. Estocolmo cedeu parcialmente às exigências ao anunciar, em dezembro de 2022, a extradição de Mahmut Tat, acusado de ligação com o PKK.

Porém, já ficou claro que nem todas as demandas serão atendidas. Também no final do ano passado, a Suprema Corte sueca vetou a extradição do jornalista Bulent Kenes, ex-editor-chefe do jornal Zaman e acusado de envolvimento em uma suposta tentativa de derrubar Erdogan em 2016.

Atualmente, uma exigência pendente é a de que sejam extraditados 33 indivíduos curdos acusados de serem combatentes do PKK. O governo sueco, no entanto, afirma que qualquer decisão depende da posição do Judiciário. “Se a Suprema Corte declarar que há obstáculos à extradição em um caso individual, o governo deve negar o pedido de extradição”, disse o Ministério das Relações Exteriores.

Apesar do impasse, a Suécia diz estar confiante na aprovação do pedido de ingresso na aliança, mesmo tendo alertado que não atenderá as demandas integralmente. “A Turquia confirma que fizemos o que dissemos que faríamos, mas também diz que quer coisas que não podemos ou não queremos dar a eles”, disse o primeiro-ministro sueco Ulf Kristersson na semana passada.

Segundo Kalin, Estocolmo precisa, acima de tudo, deixar claro às “organizações terroristas que a Suécia não é mais um porto seguro para elas e que não poderão arrecadar dinheiro, recrutar membros e se envolver em outras atividades” no país escandinavo.

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