EUA sancionam ucranianos acusados de servir à rede de desinformação da Rússia

Dois indivíduos são parlamentares ucranianos acusados de trabalhar para desestabilizar o próprio país, com vistas a uma invasão russa

O Departamento do Tesouro dos EUA impôs sanções econômicas contra quatro cidadãos ucranianos, entre eles dois membros do parlamento local, “envolvidos em atividades de influência dirigidas pelo governo russo para desestabilizar a Ucrânia“. O anúncio foi feito na quinta-feira (20), em meio à escalada de tensão no leste ucraniano, com o aumento de tropas da Rússia em regiões fronteiriças e o risco iminente de uma invasão.

O objetivo das sanções é “minar e expor o esforço de desestabilização em curso da Rússia na Ucrânia”, diz o Tesouro, que deixa claro não se tratar de uma medida isolada. “Essa ação é separada e distinta da ampla gama de medidas de alto impacto que os Estados Unidos e seus aliados e parceiros estão preparados para impor para infligir custos significativos à economia e ao sistema financeiro russos se invadirem ainda mais a Ucrânia”.

Entre os sancionados estão Taras Kozak e Oleh Voloshyn, membros ativos do Parlamento ucraniano pelo partido liderado pelo legislador pró-Rússia Viktor Medvedchuk, que está em prisão domiciliar há cerca de seis meses na Ucrânia.

“Kozak, que controla vários canais de notícias na Ucrânia, apoiou o plano da FSB (Agência Federal de Segurança da Rússia) de denegrir membros seniores do círculo íntimo do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, acusando-os falsamente de má gestão da pandemia de Covid-19“, diz o relatório do Tesouro.

Já Voloshyn teria trabalhado junto à inteligência para “minar funcionários do governo ucraniano e defender a Rússia”. Ele também teria se aliado a Konstantin Kilimnik, “cidadão russo com laços com a inteligência russa que foi sancionado por tentativas de influenciar a eleição presidencial dos EUA em 2020”.

EUA sancionam quatro cidadãos ucranianos acusados de espionagem a favor da Rússia
O presidente dos EUA, Joe Biden: sanções pesadas em caso de invasão à Ucrânia (Foto: Divulgação/Gage Skidmore)

Campanha de desinformação

Washington acusa os sancionados de atuarem a serviço da FSB, um serviço de inteligência igualmente sancionado pelos Estados Unidos. “Os quatro indivíduos desempenharam vários papéis na campanha de influência global da Rússia para desestabilizar países soberanos em apoio aos objetivos políticos do Kremlin”, diz o documento.

Wally Adeyemo, vice-secretário do Tesouro norte-americano, reforça as acusações contra Moscou. “Os Estados Unidos estão tomando medidas para expor e combater a perigosa e ameaçadora campanha de influência e desinformação da Rússia na Ucrânia”, diz ele. “Estamos comprometidos em tomar medidas para responsabilizar a Rússia por suas ações desestabilizadoras”.

Os serviços de inteligência russos são acusados pelo governo norte-americano de recrutar cidadãos ucranianos em posições-chave para, assim, obterem acesso a informações confidenciais, criando instabilidade na Ucrânia antes de uma possível invasão russa.

“As campanhas de influência da Rússia não se concentram apenas na Ucrânia. Por mais de uma década, a Rússia empregou agências de desinformação e afiliadas de serviços de inteligência para espalhar narrativas falsas em apoio a seus objetivos estratégicos”, diz o Tesouro, citando até os EUA como vítimas. “Desde pelo menos 2016, agentes russos tentaram influenciar as eleições dos EUA espalhando desinformação, semeando discórdia entre o público dos EUA e denegrindo falsamente políticos e partidos políticos dos EUA”.

Por que isso importa?

A Rússia apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass.

O conflito fez aumentar a tensão entre os dois países, que já era alta desde a anexação da Crimeia pela Rússia. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, com a ameaça de uma invasão russa à Ucrânia que tende a aumentar em 2022.

Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

A inteligência da Ucrânia calcula a presença de mais de 120 mil tropas nas regiões de fronteira, enquanto especialistas calculam que sejam necessárias 175 mil para uma invasão. Já a inteligência dos EUA afirma que um eventual ataque ao país vizinho por parte da Rússia ocorreria pela Crimeia e por Belarus.

Um conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, se isso ocorrer, as tropas russas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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