Presidente das Filipinas acusa estrangeiros a serviço do EI por atentado contra católicos

Ação extremista a bomba, que matou quatro pessoas e deixou dezenas de feridos, foi reivindicada pelo grupo radical

O governo das Filipinas afirma que estrangeiros a serviço do Estado Islâmico (EI) foram responsáveis pelo ataque terrorista que matou quatro pessoas e feriu mais de 50 em uma missa católica realizada em um ginásio esportivo no domingo (3). As informações são da rede Fox News.

O ataque a bomba ocorreu no ginásio da Universidade de Mindanao, localizada na cidade de Marawi, que abriga a maior comunidade muçulmana do país asiático, este majoritariamente católico. Entre os mais de 50 feridos, ao menos seis tinham condição crítica quando deram entrada em um hospital local.

“Condeno nos termos mais fortes possíveis os atos mais insensatos e hediondos perpetrados por terroristas estrangeiros na Universidade Estadual de Mindanao”, disse o presidente Ferdinand Marcos Jr. em comunicado. “Os extremistas que exercem violência contra os inocentes serão sempre considerados inimigos da nossa sociedade.”

Integrantes dos exércitos dos EUA e do Iraque exibem bandeira do Estado Islâmico (Foto: Flickr)

O envolvimento do EI, por sua vez, foi confirmado pelo próprio grupo, que usou seus canais habituais no aplicativo de mensagens Telegram para reivindicar a autoria. “Os soldados do califado detonaram um dispositivo explosivo numa grande reunião de cristãos na cidade de Marawi”, diz a mensagem.

Após o ataque, as autoridades iniciaram uma investigação para identificar os autores. De acordo com a agência Reuters, “pessoas de interesse” foram presas, mas a busca por mais suspeitos permanece. Os nomes dos presos e dos suspeitos em fuga, entretanto, não foram divulgados pelas autoridades.

“Neste momento, há uma operação massiva em andamento para caçar esses grupos terroristas ou supostos autores do atentado”, disse William Gonzales, oficial de polícia que chefia o Comando Ocidental de Mindanao.

Marawi foi palco em 2017 de uma grande operação das foças de segurança filipinas para derrubar a insurgência do EI que controlava a região. A operação durou cerca de cinco meses e deixou a cidade em ruínas.

Por que isso importa?

O EI passa por um processo de enfraquecimento que começou com a derrota da organização em seus dois principais redutos. No Iraque, o exército iraquiano retomou todos os territórios que o grupo dominava desde 2014. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela facão extremista na Síria.

De acordo com relatório divulgado em agosto de 2023 pela ONU (Organização das Nações Unidas), o EI “continua a comandar entre cinco mil e sete mil membros em todo o Iraque e na República Árabe da Síria, a maioria dos quais combatentes.” No entanto, “adotou deliberadamente uma estratégia para reduzir os ataques, a fim de facilitar o recrutamento e a reorganização.”

Atualmente, a maioria dos líderes do EI permanece no noroeste da Síria, mas “o grupo realocou algumas figuras-chave para outros lugares.” Um continente de forte presença da organização é a África, com afiliados locais representando uma ameaça constante aos governos da região.

Um desses afiliados é o Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS), que ampliou sua área de atuação, com aumento de ataques no Mali e, em menor escala, em Burkina Faso e no Níger. Recentemente, tem feito esforços para estabelecer “um corredor para a Nigéria para fins logísticos, de abastecimento e recrutamento, possivelmente em colaboração com o ISWAP” (Estado Islâmico da África Ocidental).

A avaliação da equipe de monitoramento da ONU, entregue ao Conselho de Segurança no final de julho, surge em meio a mais um momento crucial da luta contra o terrorismo. Desde fevereiro de 2022, o EI sofreu diversos duros golpes, com três líderes da organização mortos em operações de combate ao terrorismo.

O mais recente deles foi Abu al-Hussein al-Husseini al-Qurashi, morto em abril. O governo turco reivindicou a ação, embora a própria organização terrorista alegue que o comandante morreu em confronto com o Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), uma organização extremista associada à Al-Qaeda e listada pelo governo norte-americano como terrorista.

“Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permaneceu alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz o relatório, citando a África como uma região de particular preocupação.

Terrorismo no Brasil

Episódios recentes mostram que o Brasil é visto como porto seguro pelos extremistas e é, também, um possível alvo de ataques. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al-Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao EI foram presos e dois fugiram.

Mais tarde, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles foram acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

A ameaça voltou a ser evidenciada com a prisão, em outubro de 2023, de três indivíduos supostamente ligados ao Hezbollah que operavam no Brasil. Eles atuavam com a divulgação de propaganda do grupo extremista e planejavam atentados contra entidades judaicas.

Para o tenente-coronel do exército brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), tais episódios causam “preocupação enorme”, vez que confirmam a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras).

A opinião é compartilhada por Barbara Krysttal, gestora de políticas públicas e analista de inteligência antiterrorismo.

“O Brasil recorrentemente, nos últimos dez, cinco anos, tem tido um aumento significativo de grupos terroristas assediando jovens e cooptando adultos jovens para fazer parte de ações terroristas no mundo todo”, disse ela, que também vê o país sob ameaça de atentados. “Sim, é um polo que tem possibilidade de ser alvo de ações terroristas.”

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