O braço afegão do Estado Islâmico (EI) vem se firmando como o mais perigoso da organização terrorista, o que coloca os EUA e seus aliados ocidentais em alerta. Para analistas e autoridades, o crescimento da ameaça está ligado à ampliação e à modernização da propaganda online, que atinge cada vez mais pessoas e de forma mais eficiente. As informações são da rede NBC News.
O Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) ganhou notoriedade após o Taleban ascender ao poder no Afeganistão, em 2021. O grupo extremista, entretanto, já operava no país desde 2015, formado originalmente por membros de grupos do Paquistão que migraram para fugir da crescente pressão das forças de segurança paquistanesas.
Os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e os próprios talibãs, tratados como apóstatas pela facção de Khorasan, sob a acusação de que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática. A ação mais violenta ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), quando as bombas do grupo mataram 183 pessoas no aeroporto de Cabul.

Além de representar a maior ameaça doméstica ao regime do Taleban, o EI-K vem expandindo sua atuação para além das fronteiras afegãs. Internacionalmente, o ataque mais relevante ocorreu em Moscou em março deste ano, com ao menos 137 pessoas mortas na casa de espetáculos Crocus City Hall.
Na ocasião, quatro homens com rifles automáticos invadiram o local antes da apresentação de uma banda que foi popular nos tempos da extinta União Soviética, segundo a agência Associated Press (AP). O show estava prestes a começar quando os homens começaram a disparar contra a multidão.
Mais tarde, os agressores foram identificados como cidadãos do Tadjiquistão, que vinham sendo o principal foco de recrutamento da organização terrorista. Algo que se confirmou em junho, quando autoridades dos EUA prenderam oito migrantes tadjiques acusados de ligação com o EI.
Em maio, a pesquisadora Marlene Laruelle já havia alertado para a relevância do Tadjiquistão para o EI. Em artigo para a revista Foreign Affairs, ela afirmou que a crise econômica e o autoritarismo doméstico ajudam a explicar a disposição dos tadjiques em se juntar às fileiras do grupo terrorista.
“A economia do Tadjiquistão está moribunda, e a combinação de uma baixa taxa de crescimento e uma população jovem criou uma imensa diáspora. O país que deixaram para trás é repressivo, com um governo tão hostil a muitas formas de Islã como a qualquer sinal de dissidência”, diz ela no artigo. “Fatores socioeconômicos e políticos se combinaram para tornar os jovens tadjiques singularmente suscetíveis à radicalização.”
Os alvos do recrutamento do EI-K, entretanto, têm se diversificado, embora o foco continue sendo muçulmanos descontentes, principalmente vivendo nos EUA e na Europa. Os extremistas adotam ferramentas sofisticadas, sobretudo a inteligência artificial (IA), para difundir sua ideologia através de vídeos e artigos de texto em mais de uma dezena de idiomas.
De acordo com Lucas Webber, analista sênior de inteligência de ameaças da ONG Tecnologia Contra o Terrorismo, a mensagem que o EI-K visa difundir é a de que se trata da “única organização militante islâmica verdadeira e pura que luta contra governos na região e influências estrangeiras hostis de adversários como os Estados Unidos”.
A partir de sua facção afegã, o EI passa por um processo de reestruturação que preocupa as autoridades norte-americanas. “Mesmo com os EUA mantendo a pressão antiterrorista, o EI conseguiu se reagrupar, reparar suas operações de mídia e reiniciar conspirações externas”, disse Bret Holmgren, diretor interino do Centro Nacional de Contraterrorismo.
A avaliação é compartilhada pela ONU (Organização das Nações Unidas), que destacou o problema em relatório de agosto de 2023. “Apesar do progresso feito no direcionamento de suas operações financeiras e quadros de liderança, a ameaça representada pelo Daesh (sigla árabe para se referir ao grupo) e suas afiliadas regionais permanece alta e dinâmica nas amplas áreas geográficas onde está presente”, diz o documento.