Escassez de batatas expõe crise provocada por política de preços de Lukashenko em Belarus

Medidas do governo desestimulam produtores, geram desabastecimento e impulsionam vendas irregulares para a Rússia

Uma crise inusitada atingiu Belarus nesta primavera: a falta de batatas, um dos alimentos mais consumidos do país. O desabastecimento, segundo economistas e opositores, foi causado pela política de controle de preços imposta pelo presidente Alexander Lukashenko, que buscava conter a inflação, mas acabou tornando o cultivo do tubérculo financeiramente inviável para os agricultores. As informações são do site Politico.

A medida, implementada em outubro de 2022, obrigava supermercados a vender batatas por valores abaixo do custo de produção. Sem retorno financeiro, muitos produtores decidiram reduzir drasticamente o plantio ou vender para a Rússia, onde os preços estavam mais atrativos. Em 2024, Belarus colheu 3,1 milhões de toneladas de batatas — quase um milhão a menos que no ano anterior.

Lukashenko entre as bandeiras de Belarus e Rússia (Foto: kremlin.ru/WikiCommons)

A escassez foi agravada por exportações massivas: cerca de 200 mil toneladas de batatas foram enviadas à Rússia, onde o produto chegou a custar mais que o dobro do valor praticado em Belarus. Pressionado pela crise, o governo belarusso chegou a suspender temporariamente as exportações sem licença, mas muitos produtores burlaram a regra, classificando batatas saudáveis como “estragadas” para continuar negociando com os russos.

O cenário de prateleiras vazias nos supermercados, agravado entre março e abril, forçou o governo a revisar os preços máximos em abril e suspender o embargo à importação de batatas da União Europeia (UE) no fim de maio. Mesmo assim, o próprio Lukashenko culpou sabotadores internos pela crise. “Havia batatas de sobra. Mas o fornecimento foi limitado para mostrar os efeitos negativos da interferência do presidente nos preços. Quando o Comitê de Controle do Estado apareceu com as algemas e as colocou sobre a mesa, as batatas reapareceram”, declarou.

A repressão também alcançou o varejo. Em maio, o regime lançou uma linha direta para que cidadãos denunciassem supermercados que cobravam acima do permitido ou que não tinham batatas à venda. A intenção, segundo analistas, é intimidar comerciantes para que cumpram as ordens do governo, mesmo diante da escassez.

“O plano parece ser apenas assediar as redes varejistas na esperança de que, com medo da prisão, elas façam batatas surgirem do nada”, avaliou Lev Lvovskiy, diretor acadêmico do centro de pesquisa econômica Beroc.

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