Novas informações sugerem que Navalny sofreu envenenamento pouco antes de morrer em prisão russa

Documentos e fotos obtidos pela organização do rival de Putin sugerem que opositor foi maltratado e não recebeu atendimento adequado antes da morte em prisão do Ártico

Alexei Navalny, líder da oposição russa, apresentou fortes vômitos e convulsões pouco antes de morrer em uma prisão no Ártico em fevereiro de 2024, segundo novos documentos divulgados pela Fundação Anticorrupção (ACF), organização que ele fundou. As informações são do The New York Times.

Sua esposa e sucessora política, Yulia Navalnaya, afirmou nesta quarta-feira (17) que as informações reforçam a acusação de que Navalny foi envenenado por ordens do governo russo, embora não tenha apresentado provas diretas.

Em um vídeo de 15 minutos publicado nas redes sociais, Yulia exibiu o que disse ser uma foto da cela de Navalny, com vômito espalhado pelo chão no dia da morte, e trechos de relatórios oficiais de cinco agentes penitenciários. Ela também afirmou que amostras biológicas do corpo foram enviadas para análise em dois países, apontando indícios de envenenamento.

Alexei Navalny no tribunal em Moscou em 20 de fevereiro de 2021 (Foto: WikiCommons)

Segundo Navalnaya, durante uma caminhada matinal, a saúde de Navalny piorou repentinamente. Ele pediu ajuda aos guardas, mas recebeu atendimento inadequado e não foi levado à enfermaria a tempo.

“Alexei deitou-se no chão, puxou as pernas até a barriga e começou a gemer de dor”, afirmou.

Kremlin não comenta novas alegações

O porta-voz do Kremlin não comentou as afirmações recentes. Navalny, que cumpria uma pena de 30 anos por acusações relacionadas ao extremismo, morreu oficialmente de causas naturais, segundo autoridades russas. Sua prisão sempre foi vista dentro e fora da Rússia como politicamente motivada.

Organizações internacionais de direitos humanos e governos ocidentais responsabilizam o governo russo pela morte do opositor, alegando que ele foi envenenado em 2020 e submetido a condições desumanas na prisão. No entanto, autoridades de inteligência dos EUA consideram improvável que o Kremlin tenha envolvimento direto nos eventos finais.

A trajetória de Navalny

Principal opositor do presidente russo Vladimir Putin, Navalny ganhou destaque ao organizar manifestações e concorrer a cargos públicos na Rússia. A rede dele chegou a ter 50 sedes regionais e denunciava casos de corrupção envolvendo o governo, o que levou o Kremlin a agir judicialmente para proibir a atuação do opositor, que então passou a ser perseguido.

Em agosto de 2020, durante viagem à Sibéria, Navalny foi envenenado e passou meses se recuperando em Berlim. Ele voltou a Moscou em 17 de janeiro de 2021 e foi detido no aeroporto. Um mês depois, foi julgado e condenado por violar uma sentença suspensa de 2014, um caso de fraude. Os promotores alegaram que ele não se apresentou à polícia justamente quando estava em coma pela dose tóxica.

Encarcerado em uma colônia penal de alta segurança, chegou a fazer uma greve de fome para protestar contra a falta de atendimento médico. Depois, em junho de 2021, um tribunal russo proibiu os escritórios regionais e a Fundação Anticorrupção (FBK) dele de funcionarem, classificando-os como “extremistas”. Julgado e condenado, o oposicionista jamais recuperou a liberdade e mantinha contato com seus seguidores pelas redes sociais, atualizadas por aliados.

A última medida retaliatória do governo contra Navalny foi transferi-lo para a gelada colônia penal IK-3, no Ártico russo, onde ele morreu no dia 16 de fevereiro de 2024. O inimigo número um de Putin desmaiou quando caminhava no pátio, e as tentativas de ressuscitá-lo, segundo os agentes carcerários, foram em vão.

Navalny cumpria pena de 30 anos por acusações diversas, que vão desde fraude até extremismo, esta a mais grave. Ele sempre alegou que as acusações eram politicamente motivadas e frequentemente reclamava do tratamento que recebia no cárcere, dizendo inclusive que sua saúde estava debilitada por isso.

A perseguição de que era vítima levou aliados, grupos de defesa dos direitos humanos, governos estrangeiros e até a ONU (Organização das Nações Unidas) a culparem o governo russo pela morte, alguns usando a palavra “assassinato”.

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