Al-Shabaab ataca tropas da União Africana na região central da Somália

Ação deixou ao menos três civis mortos e foi a maior do grupo extremista registrada no país africano neste ano

Combatentes do Al-Shabaab atacaram uma base da União Africana (UA) na região central da Somália, na terça-feira (3), e dizem ter assumido o controle total das instalações. A ação, que foi confirmada tanto pelos militares quanto pelos extremistas, é a maior do grupo neste ano, de acordo com informações da agência Reuters.

O alvo do ataque foi uma base da ATMIS (Missão de Transição da União Africana na Somália, da sigla em inglês) perto de El Baraf, cerca de 130 quilômetros a norte da capital nacional, Mogadíscio. Não há informações oficiais sobre as baixas entre os soldados, mas um residente da área atacada informou que ao menos três civis morreram durante a troca de tiros.

Entretanto, o presidente da comissão da UA, Moussa Faki Mahamat, usou o Twitter para homenagear militares do Burundi mortos. “Falei com o presidente @GeneralNeva hoje para prestar meus respeitos pelo sacrifício das forças de paz que perderam suas vidas no cumprimento do dever após um ataque terrorista na #Somália hoje. Eles nunca serão esquecidos. Oramos pela recuperação de seus companheiros feridos”.

De acordo com os extremistas, os militares foram expulsos da base, que agora está em poder do grupo radical. “Os mujahideen lançaram um ataque antes do amanhecer em uma base militar ATMIS em El Baraf”, disse um comunicado do Al-Shabaab. “Depois de um tiroteio feroz, os mujahideen conseguiram invadir a base e agora estão no controle total de toda a base militar”.

Um vídeo que foi compartilhado pela facção mostra um grupo de pessoas saqueando uma base militar e exibe equipamentos compatíveis com aqueles usados pelas tropas da UA. É possível ver um homem com uma bandeira negra do Al-Shabaab, além do corpo de um soldado com a palavra “Burundi” no uniforme. Não foi possível verificar de forma independente a veracidade das imagens.

Tropas da União Africana em operação nos arredores de Mogadíscio (Foto: AMISOM/Flickr)
Processo eleitoral

A Somália vive um momento de forte turbulência que levou ao adiamento das eleições parlamentares agendadas originalmente para novembro de 2021. Nesse período, o Al-Shabaab tem intensificado as ações terroristas, parte de sua missão principal que é destituir o governo central e impor no país sua visão radical da lei Islâmica.

Em meio aos recentes confrontos entre as forças de segurança e os jihadistas, o governo da Somália anunciou em meados de março que cerca de 200 combatentes do Al-Shabaab morreram durante uma operação militar realizada na região central do país.

De acordo com os militares somalis, a operação contou com apoio aéreo das forças armadas dos EUA, que teriam usado um drone para bombardear um reduto de extremistas no vilarejo de Hareri Gubadle, região de Galgaduud, a cerca de 300 quilômetros da capital Mogadíscio.

Por que isso importa?

O Al-Shabbab chegou a controlar Mogadíscio até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro do país. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Dados apontam que os extremistas estiveram em mais de 400 episódios violentos no país entre julho e setembro do ano passado – o maior número desde 2018.

O confronto, porém, atualmente pende para o lado do exército. O objetivo dos militares é reconquistar territórios vitais para a economia do país, numa ofensiva comandada pelo general Odowaa Yusuf Rageh. Em determinadas missões, ele faz questão de liderar pessoalmente os militares. 

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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