Analistas temem nacionalização do conflito em Tigré, na Etiópia

Além de Tigré, há risco de conflito em outras 11 regiões etíopes; disputas devem eclodir por oportunismo e queixa

Os conflitos em Tigré, intensificados desde o último dia 11 de novembro, podem desencadear uma série de disputas e violência em outras partes da Etiópia. A avaliação é de especialistas que falaram com a revista “The New Humanitarian”.

Os distúrbios na região podem ser apenas os primeiros em meio a intensa transição política vivida no país, dividido em dez regiões, com base na etnia das populações.

Há relatos da reação brutal e perda de controle por parte das tropas do premiê Abiy Ahmed – Nobel da Paz em 2019. Os especialistas também advertiram que setores da insurgência armada podem aproveitar a insatisfação com o governo federal, em Adis Abeba, para avançar causas oportunistas em meio ao conflito, que caminha para uma guerra civil.

Em Benishangul-Gumuz, ao noroeste do país. No dia 14 de novembro, dois dias após as forças etíopes assumirem o controle de Tigré, homens armados mataram 34 pessoas em um ônibus de passageiros.

Analistas temem que conflito em Tigré alimente violência em toda Etiópia
Refugiados da região de Tigré ao chegarem na fronteira do Sudão após conflitos, em novembro de 2020 (Foto: Ucnur/Hazim Elhag)

Não está claro quem são os agressores, mas o governo culpa milicianos da etnia Gumuz, que têm como alvo outros grupos étnicos, como os Amhara. Membros do Amhara também foram alvos na zona de West Wollega, no estado de Oromia.

Pelo menos 54 civis foram mortos no dia 1 de novembro por supostos membros do OLA (Exército de Libertação Oromo), uma das facções separatistas da Frente de Libertação Oromo. Banido, o grupo voltou à Etiópia através de Abiy.

Outras possibilidades de disputa armada

Há, pelo menos, outros oito pontos sensíveis a disputas armadas em fronteiras, regiões e zonas da Etiópia – um país com proporção semelhante aos estados brasileiros do Mato Grosso e Roraima, juntos.

Um exemplo é a fronteira entre as regiões Afar e Somali, conhecida por ser um corredor de comércio e transporte ao vizinho portuário de Djibouti. Os conflitos na região já forçaram a saída de mais de 125 mil pessoas desde 2018.

Já em Fafan, na fronteira entre a região Oromo e a fronteira oriental com a Somália, há uma das maiores concentrações de deslocados etíopes. Segundo a Acnur (Agência das Nações Unidas para Refugiados), o local reúne mais de 160 mil pessoas vindas de 34 origens.

Os refugiados fogem da violência que se espalha pela região da Etiópia desde agosto de 2018, quando somalis atacaram comunidades em meio a uma alta tensão política. A região é tema de disputas por acesso a terras e recursos naturais.

Analistas temem que conflito em Tigré alimente violência em toda Etiópia
Refugiados eritreus em campo em um dos campos de Tigré, na Etiópia, em março de 2016 (Foto: União Europeia/Anouk Delafortrie)

Ainda em Oromia, Outro local que concentra conflitos por recursos e violência intercomunitária é a divisa entre Tigré e Amhara. Autoridades estimam que mais de 50 mil se deslocaram entre 2018 e 2019 após ataques da TPLF (Frente de Libertação do Povo Tigré), antigo poder dominante no país.

Outros conflitos são registrados nas zonas Gedeo e Guji Ocidental, Sheko, Wolaita e Konso. Geralmente intercomunitários, os embates envolvem assassinatos, roubos e perseguição.

Conforme a ONU, cerca de 1,2 milhão já se deslocaram devido a um conflito na Etiópia. É provável que o número aumente devido a complexa situação em Tigré e a iminente crise no restante da Etiópia.

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