Ataque a comboio da Cruz Vermelha em meio ao conflito civil do Sudão mata ao menos dois

Organização afirma que ação, ocorrida na capital Cartum, foi 'deliberada' e deixou outras sete pessoas feridas, além das duas vítimas fatais

Ao menos duas pessoas morreram em função de um ataque realizado contra um comboio da Cruz Vermelha domingo (10) no Sudão, país que vive um conflito civil envolvendo as Forças Armadas regulares e uma milícia fortemente armada e bem treinada. As informações são da rede Deutsche Welle (DW).

“Nossa missão hoje era trazer esses civis para um local seguro. Em vez disso, vidas foram tragicamente perdidas”, disse Pierre Dorbes, chefe da delegação do Comitê Internacional da Cruz Vermelha CICV no país africano. “Meu coração está com os entes queridos das pessoas mortas e esperamos desesperadamente que os feridos se recuperem totalmente”.

Comboio da Cruz Vermelha em Makelle, Etiópia, 27 de maio de 2022 (Foto: reprodução/Facebook)

De acordo com a entidade, o comboio alvo do ataque era composto por três veículos e dois ônibus, “todos claramente marcados com o emblema da Cruz Vermelha”. Três dos feridos são funcionários da organização, mas a identidade dos mortos não foi informada.

Em sua conta na rede social X, antigo Twitter, a CICV afirmou que o ataque foi “deliberado”, não acidental E explicou que o comboio atuava para resgatar mais de cem civis vulneráveis em meio ao conflito no Sudão.

“Pedimos a proteção imediata de todos os civis, incluindo os trabalhadores humanitários e o pessoal médico”, acrescenta o comunicado, segundo o qual a entidade está “chocada e horrorizada.”

A Cruz Vermelha alega que tanto as Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) quanto as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês), que estão em conflito, foram alertadas sobre o comboio e concederam passagem segura a ele.

Os militares regulares, por sua vez, assumiram a responsabilidade, mas atribuíram a culpa à organização humanitária. Segundo as SAF, o comboio da Cruz Vermelha tinha entre seus veículos um pertencente às RSF. Além disso, o grupo teria se aproximado demais das posições defensivas do Exército.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.

As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tem entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan lidera um efetivo de cerca de 200 mil.

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.

Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão realizaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes.

Os números de civis mortos e vítimas de abusos diversos não param de crescer desde então. A situação levou o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, a dizer em julho que o país africano está “à beira de uma guerra civil.“

As Nações Unidas calculam que o conflito deslocou mais de 4,8 milhões de pessoas, sendo que cerca de 1,2 milhões buscaram abrigo nos países vizinhos.

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