Ataque do Estado Islâmico mata três membros das forças de segurança da Líbia

Grupo extremista atacou uma brigada armada aliada ao governo formada essencialmente por indivíduos da etnia Tubu

Um ataque realizado por combatentes do Estado Islâmico (EI) terminou com a morte de três integrantes das forças de segurança da Líbia, quarta-feira (28), em uma região desértica a cerca de 700 quilômetros da capital nacional, Trípoli. As informações são do site The Defense Post.

De acordo com um comunicado do ministério do Interior líbio, o grupo de extremistas “atacou uma patrulha da Brigada dos Mártires Umm al-Aranib, matando três de seus membros”. Ligado ao governo, o grupo armado que foi alvo do EI é formado essencialmente por indivíduos da etnia Tubu.

Além de confirmarem o ataque, as forças do governo dizem ter matado quatro jihadistas, destruindo também o veículo que os transportava. Segundo o comunicado, o objetivo dos terroristas é “minar a estabilidade e aterrorizar os civis”.

Na última segunda-feira (24), o EI havia assumido a autoria de outro ataque no mesmo local contra membros da Brigada, alegando ter matado dois deles. O grupo extremista chegou a controlar partes do norte e do leste da Líbia, mas foi derrotado pelas forças do governo em 2018.

Porto da Líbia, em 2019 (Foto: Unicef/Alessio Romenzi)

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), publicado em julho de 2021, a prioridade do EI atualmente é “o reagrupamento e a tentativa de ressurgir” em seus dois principais domínios, Iraque e Síria, onde ainda mantém cerca de 10 mil combatentes ativos. O documento sugere, ainda, que o grupo teve considerável perda financeira, devido a dois fatores: as operações antiterrorismo no mundo e a má gestão de fundos por parte de seus líderes.

Paralelamente à derrocada do EI, a pandemia de Covid-19 reduziu o número de ataques terroristas em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do número de pessoas em áreas públicas. Entretanto, grupos jihadistas têm se fortalecido em zonas de conflito, e isso pode causar um impacto na segurança global conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.

Esse cenário permitiu ao EI, particularmente, ganhar uma sobrevida, fazendo uso sobretudo do poder da internet. À medida em que as restrições relacionadas à pandemia diminuem gradualmente, há uma elevada ameaça de curto prazo de ataques inspirados no grupo fora das zonas de conflito. São ações empreendidas por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar a retomada de força da organização.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

Tags: