Combatentes invadem laboratório em Cartum e geram ‘enorme risco biológico’ no Sudão

Representante da OMS confirmou o perigo, mas não revelou a qual das facções pertencem os homens que controlam o local

O conflito armado que explodiu no Sudão nas últimas semanas gerou um “enorme risco biológico” na capital Cartum. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), combatentes assumiram o controle do Laboratório Nacional de Saúde Pública, que contém patógenos de doenças contagiosas. As informações são da rede CNN.

Nima Saeed Abid, representante da OMS no país africano, disse que os funcionários do laboratório não conseguiram acessar o local desde que ele foi tomado por homens armados. Porém, ela não revelou se os invasores pertencem às Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês) ou ao grupo paramilitar das Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês), as duas facções rivais em conflito.

Cartum, capital do Sudão, em janeiro de 2017 (Foto: Christopher Michel/Flickr)

Entre os patógenos que a OMS destaca como perigosos e que estão armazenados no laboratório estão os da cólera, do sarampo e da poliomielite. “Existe um enorme risco biológico associado à ocupação do Laboratório Nacional de Saúde Pública de Cartum por um dos lados em combatente”, disse ela.

A OMS confirmou que os técnicos responsáveis pelo laboratório não mais têm acesso ao local. A energia também foi cortada, o que significa que “não é possível gerenciar adequadamente os materiais biológicos que estão armazenados no laboratório para propósito médico”.

Embora a mera ocupação do local não represente perigo imediato, ele surgirá em caso confronto armado, que, de acordo com a entidade, “transformaria o laboratório em uma bomba de germes”.

“É necessária uma intervenção internacional urgente e rápida para restaurar a eletricidade e proteger o laboratório de qualquer confronto armado porque estamos enfrentando um perigo biológico real”, declarou Abid.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito armado que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das forças armadas, e Mohamed Hamdan Daglo, apelidado de “Hemedti”, à frente das Forças de Apoio Rápido (RSF, da sigla em inglês), corpo paramilitar da violenta milícia Janjawid, que combateu os rebeldes de Darfur.

As tensões decorrem de divergências sobre como cem mil soldados da milícia paramilitar devem ser integrados ao exército e quem deve supervisionar esse processo. 

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Desde que o conflito se espalhou, primeiro pela capital, depois por outras regiões do país, as nações estrangeiras que tinham cidadãos e representantes diplomáticos no Sudão começaram um processo de evacuação, viabilizado por um frágil cessar-fogo que não foi totalmente respeitado pela partes.

Mais de 420 pessoas morreram somente nos primeiros dez dias de combates. Entre as vítimas estão ao menos quatro trabalhadores humanitários, de acordo com relatos da ONU (Organização das Nações Unidas), que levou o problema a seu Conselho de Segurança.

Tags: