A pandemia do novo coronavírus, somada à crise política e à violência, acentuam ainda mais as vulnerabilidades vividas pela população da República Centro-Africana. O alerta é do chefe de manutenção da paz da ONU, Jean-Pierre Lacroix, nesta segunda (22).
Até esta terça (23), dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) informam que o país registrou 2,9 mil casos confirmados da doença e 30 mortes. Há possibilidade de alta subnotificação.
Diversas medidas foram impostas pelo governo para tentar conter a disseminação do vírus. Entre elas, isolamento de três semanas para quem entra no país e a proibição de aglomerações de mais de 15 pessoas.
Cerca de 2,6 milhões de pessoas, mais da metade da população, precisam de ajuda humanitária e proteção. O país tem cerca de 697 mil deslocados internamente e 616 mil refugiados em países vizinhos. As Nações Unidas enviam ajuda a apenas 720 mil pessoas.
O fechamento da fronteira com Camarões e a República Democrática do Congo tem elevado o custo de bens importados, como alimentos básicos.
Crise política
Em dezembro, a República Centro-Africana irá realizar eleições presidenciais e legislativas. A situação política frágil e as condições de segurança cada vez mais delicadas preocupam Lacroix.
O chefe de manutenção da paz da ONU afirmou que os partidos estão formando coalizões, intensificando declarações públicas, anunciando candidatos presidenciais e desafiando marcos legais para as eleições.
A afirmação de Lacroix foi feita durante uma reunião do Conselho de Segurança, cujos principais pontos podem ser conhecidos por meio de documento oficial.
As tensões políticas se ampliaram após um grupo de parlamentares se mobilizar para ampliar o mandato do presidente Faustin-Archange Touadéra e dos membros da Assembleia Nacional. A manobra forçaria o adiamento das eleições.
O período para o registro de eleitores começou nesta segunda e vai até o dia 28 de julho. Além disso, o governo autorizou a votação em países como Bélgica, Benin, Congo, França, EUA, entre outros, devido a diáspora vivida no país. Partidos da oposição tentam anular as duas medidas.
Violência
Durante o encontro virtual, Lacroix condenou a emboscada do último domingo (21) no oeste do país, em uma missão conjunta da ONU e das forças de segurança locais, contra supostos membros do grupo armado 3R. Dois soldados da força nacional morreram e sete ficaram feridos.
Apesar dos avanços alcançados pelo Acordo Político pela Paz e Conciliação, assinado em fevereiro do ano passado, alguns grupos armados continuam usando a violência para avançar com seus objetivos expansionistas, segundo Lacroix.
Para proteger os civis e desencorajar os atos violentos, a missão da ONU no país, a Minusca, reforçou seu posicionamento e realizou operações militares, além de se envolver com partes nacionais e locais.