Entenda o posicionamento dos principais atores geopolíticos sobre o conflito Israel x Hamas

Com o Ocidente ao lado de Israel e Brasil e China tentando mediar a paz, Irã e Rússia surgem como principais partidários dos palestinos

A violência do conflito entre Israel e Hamas, iniciado pela agressão do grupo radical no último sábado (7), chocou o mundo e gerou reações diversas dos principais atores geopolíticos. O Ocidente, encabeçado por Estados Unidos e Reino Unido, lidera a aliança pró-Israel. Embora mais discretos, os apoiadores da causa palestina também vieram a público. Entenda quem é quem na diplomacia da guerra do Oriente Médio.

O presidente dos EUA Joe Biden (Foto: Creative Commons)
Washington e Londres puxam a fila

“Neste momento, devemos ser absolutamente claros: estamos com Israel. Estamos com Israel.” As palavras do presidente Joe Biden, reproduzidas pelo jornal The New York Times, não deixam margem a dúvida quanto ao posicionamento dos EUA, que têm no governo israelense um aliado histórico.

O presidente norte-americano foi duro ao comentar a agressão do Hamas, que classificou como “mal puro” e “mal indiscriminado”. Usou palavras como “atrocidades”, “doentio” e “abominável” para descrever as ações do grupo radical, que pegou Israel de surpresa com um ataque devastador, que somente nas primeiras horas matou cerca de 900 pessoas e não poupou ninguém, nem mulheres, nem crianças.

Com ao menos 14 cidadãos norte-americanos entre as vítimas confirmadas, além de 20 desaparecidos, Biden encarou o episódio como uma agressão também aos Estados Unidos. Assim, o apoio militar está garantido. O primeiro carregamento de munição foi entregue nesta quarta-feira (11), para fortalecer as tropas israelenses em uma possível incursão militar terrestre na faixa de Gaza.

O governo britânico também apoiou a reação de Israel, dizendo que o país tem direito à “autodefesa” e de “tomar medidas proporcionais para pôr fim à violência”, segundo o porta-voz do primeiro-ministro Rishi Sunak, cujas palavras foram reproduzidas pela agência Reuters. O Reino Unido, entretanto, não prometeu apoio militar.

Putin e a causa palestina

Moscou usou o conflito para atacar Washington, culpando-o pelas hostilidades no Oriente Médio. Em encontro com o primeiro-ministro iraquiano Mohammed Shia’ Al Sudan, na terça-feira (10), o presidente russo Vladimir Putin disse que a guerra expõe o “fracasso da política dos EUA no Oriente Médio”, que jamais “levou em conta os interesses fundamentais do povo palestino.”

O Ministério das Relações Exteriores russo foi mais sutil e apelou para a diplomacia, dizendo através do Telegram que “a Rússia tem laços de longa data com os palestinos, mas também existem relações com Israel, onde há muitos compatriotas.”

Episódios recentes, porém, permitem questionar as palavras do Kremlin, que em três ocasiões, a mais recente em março deste ano, recebeu delegações do Hamas. Já a relação com Israel vai de mal a pior, algo que ficou claro com o fechamento da filial russa da Sohnut (Agência Judaica para Israel), uma organização sem fins lucrativos que processa a imigração de judeus para Israel.

A ação contra a agência, que tem sede em Jerusalém, evidenciou o incômodo de Moscou com as críticas de Israel à agressão russa à Ucrânia. Entre elas, uma feita pelo ex-premiê Yair Lapid, que em abril de 2022 acusou Moscou de consumar crimes de guerra. Ele condenou o que chamou de “visões terríveis em Bucha” ao citar um massacre atribuído às tropas da Rússia contra civis ucranianos.

China mediadora?

Beijing se posicionou com pretensa neutralidade ao instar as duas partes a aceitarem a retomada do processo de paz e dizendo que “a saída fundamental do conflito reside na implementação da solução de dois Estados e no estabelecimento de um Estado independente da Palestina.”

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores disse que “a China está profundamente preocupada com a atual escalada de tensões e violência entre a Palestina e Israel”. E acrescentou: “Apelamos às partes relevantes para que mantenham a calma, exerçam a contenção e ponham imediatamente um fim às hostilidades para proteger os civis e evitar uma maior deterioração da situação.”

O posicionamento, porém, não convenceu o Ocidente. Em encontro com o presidente chinês Xi Jinping, Chuck Schumer, líder da maioria no Senado dos EUA que está em visita à Ásia, manifestou “desapontamento” com a falta de apoio a Israel, que por sua vez também contestou as palavras chinesas.

“Quando pessoas estão sendo assassinadas, massacradas nas ruas, este não é o momento de apelar a uma solução de dois Estados”, disse Yuval Waks, alto funcionário da embaixada de Israel em Beijing, segundo a agência Reuters.

Posteriormente, Beijing divulgou novo comunicado, segundo o site The Hill. Nele, diz condenar “toda a violência e ataques contra civis” e acrescenta que “a tarefa mais urgente agora é alcançar um cessar-fogo e restaurar a paz.” 

Os apoiadores do Hamas

Acusado de colaborar com o Hamas no planejamento do ataque, o Irã se manifestou através de sua agência de notícias oficial, conforme repercutiu o jornal The Washington Post. “Vocês realmente deixaram a Ummah islâmica feliz com esta operação inovadora e vitoriosa”, disse a IRNA, citando o presidente Ebrahim Raisi e usando uma expressão em árabe que se refere à comunidade muçulmana.

Em relatório de contraterrorismo que aborda o ano de 2020, o Departamento de Estado norte-americano afirmou que Teerã “fornece até US$ 100 milhões anualmente em apoio combinado a grupos terroristas palestinianos, incluindo o Hamas, a Jihad Islâmica Palestina e a Frente Popular para a Libertação da Palestina.”

O apoio iraniano ao ataque foi relatado também pelo The Wall Street Journal (WSJ). Segundo altos membros de grupos radicais, funcionários da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC, na sigla em inglês), a elite das forças armadas iranianas, trabalharam em colaboração com o Hamas desde agosto para planejar uma ofensiva abrangente contra Tel Aviv, envolvendo terra, ar e mar.

De acordo com as fontes, o ataque a Israel, o mais grave no Estado judeu desde a Guerra do Yom Kippur, em 1973, foi planejado em várias reuniões realizadas em Beirute. Nesses encontros, estiveram presentes funcionários da IRGC e representantes de quatro grupos terroristas apoiados pelo Irã, incluindo o Hamas e o Hezbollah.

E o Brasil?

O Brasil, através do Itamaraty, adotou posicionamento similar ao da China ao reiterar “seu compromisso com a solução de dois Estados, com um Estado Palestino economicamente viável, convivendo em paz e segurança com Israel, dentro de fronteiras mutuamente acordadas e internacionalmente reconhecidas.”

Também manifestou “solidariedade às famílias das vítimas” e “reiterou o apelo a todas as partes para que respeitem o direito humanitário internacional e os princípios fundamentais de distinção entre combatentes e civis.”

Entretanto, diferente de Beijing, o governo brasileiro fez referência explícita à ação do Hamas já no domingo (7), dia da agressão. Disse, em nota, que “condena a série de bombardeios e ataques terrestres realizados hoje em Israel a partir da Faixa de Gaza.”

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