Exército do Sudão recupera palácio presidencial e declara Cartum livre do controle paramilitar

General Abdel Fattah al-Burhan anuncia vitória na cidade após quase dois anos de guerra contra as Forças de Apoio Rápido

O general Abdel Fattah al-Burhan, líder das Forças Armadas Sudanesas (SAF, na sigla em inglês), fez uma visita simbólica ao palácio presidencial em Cartum após desembarcar no aeroporto internacional, horas depois de o local ter sido recapturado. Cercado por soldados eufóricos, ele declarou a capital “livre” das Forças de Apoio Rápido (RSF), milícia paramilitar que havia assumido o controle da cidade no início da guerra. As informações são da rede BBC.

Esta é a primeira vez que Burhan retorna ao palácio presidencial desde o início do conflito, em abril de 2023, resultando na morte de centenas de milhares de pessoas e no deslocamento forçado de milhões. Durante a guerra, o governo militar foi obrigado a se transferir para Porto Sudão, no Mar Vermelho, após as RSF assumirem o controle da capital.

Um comandante do exército declarou à BBC que as tropas conseguiram garantir completamente o aeroporto e esperavam eliminar os últimos combatentes das RSF até o fim do dia. Segundo ele, o avanço militar se intensificou após a recuperação do palácio presidencial e de outras instituições estatais tomadas pela milícia.

Além disso, as SAF anunciaram a retomada de todas as pontes sobre o Rio Nilo que conectam as três cidades que formam a Grande Cartum. Também foi reconquistado um campo militar em Jebel Awliya, considerado um dos principais redutos das RSF no sul da capital. Relatos indicam que combatentes rebeldes estão se retirando para o sul.

O general Abdel Fattah al-Burhan, que lidera o exército no conflito do Sudão (Foto: Reprodução de vídeo)

Vídeos publicados nas redes sociais mostravam cenas de celebração nas ruas. Contudo, as marcas da ocupação brutal das RSF permanecem evidentes, com relatos contínuos de saques em massa, violência sexual e outras atrocidades cometidas pela milícia.

Apesar do avanço significativo das SAF, o conflito no Sudão está longe de ser resolvido. As RSF ainda mantêm controle sobre quase toda a região de Darfur, no oeste do país, e ambos os lados são apoiados por potências estrangeiras que têm alimentado o conflito com armas. Esforços internacionais para negociar a paz até agora fracassaram.

Por que isso importa?

O Sudão vive um violento conflito civil que coloca frente a frente dois generais que comandam o país africano desde o golpe de Estado de 2021: Abdel Fattah al-Burhan, chefe das SAF, e Mohamed Hamdan “Hemedti” Daglo, à frente da milícia das RSF.

As tensões decorrem de divergências sobre a incorporação dos combatentes das RSF às Forças Armadas, o que levou a milícia a se insurgir. Hemedti tinha originalmente entre 70 mil e cem mil homens sob seu comando, de acordo com a rede Deutsche Welle (DW), enquanto al-Burhan liderava um efetivo de cerca de 200 mil no início do conflito.

No dia 16 de abril, um domingo, explosões puderam ser ouvidas no centro da capital Cartum, mais precisamente no entorno do quartel-general militar do Sudão e do palácio presidencial, locais estratégicos reivindicados tanto por militares quanto pelas RSF.

O aeroporto internacional da capital, tomado pela milícia, foi bombardeado com civis dentro. Aeronaves foram destruídas, e caças da força aérea sudanesa e tanques foram usados contra os paramilitares.

Embora as SAF sejam mais bem equipadas e em maior número, as RSF são igualmente bem treinadas, o que equilibra as ações. O balanço de forças apenas prolonga as hostilidades e a violência decorrente, com nenhum dos dois lados conseguindo se impor sobre o inimigo.

A terrível situação gera uma grave escassez de suprimentos essenciais, já que as entregas de produtos comerciais e de ajuda humanitária foram fortemente restringidas pelos combates e pelos desafios de acesso ao território controlado pelas RSF.

Tags: