Retirada de tropas francesas do Chade reforça perda de influência do Ocidente na África

Paris começa a repatriar ativos militares após fim de cooperação com Djamena; presença no Sahel é cada vez mais contestada

A França iniciou a retirada de seus ativos militares do Chade, marcando mais um episódio na erosão de sua influência nas ex-colônias africanas. O movimento começou na terça-feira (10), com o retorno de dois caças Mirage a uma base no leste francês, conforme informou o porta-voz do exército coronel Guillaume Vernet. As informações são do jornal The Guardian.

A retirada acontece semanas após o Chade anunciar o fim de uma cooperação militar que durou décadas com Paris. Em comunicado, o chanceler chadiano, Abderaman Koulamallah, reforçou que a decisão não implica um rompimento total.

“O país permanece determinado a manter relações construtivas com a França em outras áreas de interesse comum, em benefício de ambos os povos”, disse a autoridade.

Exército francês em missão no Sahel africano, em 2015 (Foto: Wikimedia Commons)
Descontentamento regional

O Chade, até então visto como um aliado confiável no Sahel, soma-se à lista de países africanos que vêm contestando a presença francesa. Recentemente, o Senegal também solicitou a retirada de tropas francesas, com o presidente Bassirou Diomaye Faye declarando que sua permanência é “incompatível com a soberania do país”.

Desde 2020, uma série de golpes militares transformou o panorama político da região, favorecendo governos que expressam crescente desdém pela presença francesa. Países como Burkina Faso, Mali e Níger expulsaram tropas, diplomatas e até órgãos de imprensa franceses. Em muitos casos, a substituição por mercenários estrangeiros, principalmente russos, tem sido apontada como uma alternativa no combate ao jihadismo.

Redirecionamento de alianças

Sob o comando de Mahamat Idriss Déby Itno, o Chade vem fortalecendo laços com potências como os Emirados Árabes Unidos e a Rússia, deixando a parceria histórica com Paris em segundo plano. Desde a morte do ex-presidente Idriss Déby, em 2021, o país busca diversificar suas relações, refletindo um reposicionamento estratégico que ecoa em outras partes do continente.

Com o encerramento das operações no Chade, a França também conclui sua atuação militar direta contra militantes islâmicos no Sahel, encerrando um ciclo de décadas. A desmobilização completa deve levar semanas, segundo Vernet, enquanto detalhes são finalizados entre os dois países.

A saída do Chade reflete não apenas a perda de influência militar da França, mas também um descontentamento mais amplo com sua política externa, frequentemente vista como uma extensão do colonialismo.

Tags: