A Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) manifestou durante cúpula no domingo (7) preocupação com a potencial desintegração do bloco após Mali, Burkina Faso e Níger, liderados por juntas militares, assinarem um tratado de confederação. No fim de semana, esses países formalizaram um pacto de defesa mútua, batizado Aliança dos Estados do Sahel (AES). As informações são do The Guardian.
O tratado da AES assinado no sábado (6) durante uma cúpula no Níger, fortaleceu a decisão dos três países de se distanciarem dos 15 Estados-membros da CEDEAO, o principal bloco econômico da região, que têm instado esses países a retornarem ao regime democrático.
Em resposta, a CEDEAO anunciou a imposição de vistos para os cidadãos desses países, mas não especificou quando essa medida entrará em vigor.

Em janeiro, ao comunicar a saída do bloco, Burkina Faso, Mali e Níger acusaram a organização de se tornar uma ameaça aos seus membros, de trair seus princípios e se tornar uma ameaça, sob a influência de potências estrangeiras. Os países alegam que a organização não apoiou efetivamente suas lutas contra o terrorismo e a insegurança, impondo sanções consideradas “ilegais, ilegítimas e irresponsáveis”.
O líder da comissão da CEDEAO, Omar Alieu Touray, se mostrou receoso de que a retirada poderia resultar em “isolamento político”, perdas significativas de financiamento e restrições à liberdade de movimento, referindo-se à livre circulação permitida dentro do bloco desde sua fundação em 1975. Ele alertou durante reunião em Abuja, capital da Nigéria, que o bloco enfrenta o “perigo iminente de desintegração”.
Touray mencionou que o financiamento de projetos econômicos que ultrapassa os US$ 500 milhões em Burkina Faso, Mali e Níger poderia ser interrompido ou suspenso.
“Levando em consideração esses benefícios, fica claro que a desintegração não apenas ameaçará a liberdade de circulação e estabelecimento das pessoas, mas também intensificará a insegurança na região”, declarou.
Touray destacou que a saída dos três países representará um sério revés para a colaboração em segurança, especialmente no que diz respeito ao intercâmbio de informações e ao engajamento na luta contra o terrorismo.
Os líderes da CEDEAO se reuniram para discutir as consequências do tratado da AES. Eles também abordaram a criação de uma força regional contra o terrorismo e uma possível moeda comum regional durante a cúpula em uma reunião a portas fechadas.
Bola Tinubu, presidente nigeriano que foi reeleito presidente da CEDEAO no fim de semana, recebeu críticas internas por apoiar a intervenção do bloco no Níger, país vizinho com o qual compartilha laços históricos centenários e uma fronteira de 1.600 km.
Os membros da AES também criticam o Ocidente por não estar fazendo o necessário para combater a insurgência no Sahel, que é uma das principais causas dos golpes militares na região.
A cronologia dos golpes
O Mali é quem está há mais tempo sob um governo militar. O país viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, colocando no poder o coronel Assimi Goita. O argumento para derrubar o governo democraticamente eleito, representado pelo primeiro-ministro Moctar Ouane e pelo presidente Bah Ndaw, foi a luta contra o extremismo.
O golpe em Burkina Faso veio sob a mesma justificativa, em janeiro de 2022. O capitão Ibrahim Traoré comanda o país desde então, sem qualquer sinal de que a insurgência islâmica será controlada. O Níger, onde a ameaça extremista é menor, nem por isso ficou livre da onda antidemocrática e foi palco de um golpe de Estado em julho do ano passado, com Tchiani ascendendo ao poder.
Foi o golpe no Níger que gerou um pequeno movimento democrático na África, sob a liderança da CEDEAO. O bloco impôs sanções e até ameaçou intervir militarmente, mas nada disso bastou para Tchiani recuar. Ao contrário, a pressão fortaleceu a aliança entre os três governos, que culminou com o pacto de defesa mútua assinado no sábado.