O governo da Uganda, na África Oriental, está usando a tecnologia de reconhecimento facial para identificar e perseguir dissidentes após uma onda de protestos antigovernamentais, nos dias 18 e 19 de novembro.
Em reportagem veiculada pelo portal Quartz Africa, a autoridades usam o sistema de vigilância da gigante de tecnologia Huawei, instalado no ano passado.
Políticos da oposição e ativistas locais alertaram o abuso. Segundo fontes que pediram para não serem identificadas, o sistema também é capaz de verificar placas de veículos e monitorar redes sociais.
![Uganda usa reconhecimento facial para perseguir dissidentes após protestos](https://areferencia.com/wp-content/uploads/2020/12/eodhso7wmaacyva.jpg)
A polícia de Uganda confirmou que usou as câmeras para “rastrear” alguns dos mais de 830 suspeitos detidos após protestos no país. Não há qualquer supervisão judicial para a fiscalização.
As manifestações da Uganda, desencadeadas pela prisão de dois políticos da oposição nos dias 18 e 19 de novembro, terminaram com mais de 50 mortos e centenas de detidos. A população reivindica o fim do governo do presidente, Yoweri Museveni, há 34 anos no poder.
Investimento milionário
Marcado pela pobreza extrema, o país de 43 milhões de habitantes na África Oriental tem a Huawei como parceira desde a implantação e modernização da infraestrutura de telecomunicação.
Os negócios, no entanto, já se expandiram para a área de segurança. No ano passado, Museveni elogiou a eficácia da tecnologia e destacou a estrutura integrada.
Commissioned the first phase of the National CCTV System at the Police Headquarters in Naguru, Kampala. Kampala Metropolitan alone has 83 monitoring centres, 522 operators under 50 commanders. pic.twitter.com/2H6rha1qs2
— Yoweri K Museveni (@KagutaMuseveni) November 28, 2019
Ao todo, o sistema nacional instalado pela Huawei soma 83 centros de visualização, 522 operadoras e pelo menos 50 comandantes. O objetivo, disse à época o presidente, é integrar o sistema com outras agências do país, como o órgão tributário e o departamento de imigração.
Hoje as câmeras estão instaladas em mais de 2,3 mil municípios rurais e grandes cidades do país. Kampala anunciou um investimento de US$ 126 milhões – o equivalente a R$ 662 milhões.