Biden pede diplomacia, mas diz que EUA estão preparados para ‘outros cenários’ contra a Rússia

Presidente norte-americano diz em comunicado que responderá "de forma decisiva" e promete "custos rápidos e severos à Rússia"

O presidente norte-americano Joe Biden voltou a ameaçar a Rússia em caso de uma invasão à Ucrânia, cenário cada vez mais possível. O ocupante da Casa Branca conversou no sábado (12) com o líder russo Vladimir Putin, na tentativa de reduzir a tensão na Europa. E, embora tenha sugerido novamente uma solução diplomática, afirmou que os EUA estão preparados para “outros cenários”.

“O presidente Biden deixou claro que, se a Rússia realizar uma nova invasão da Ucrânia, os Estados Unidos, juntamente com nossos aliados e parceiros, responderão de forma decisiva e imporão custos rápidos e severos à Rússia”, diz um comunicado publicado pela Casa Branca.

No texto, Washington diz que “uma nova invasão russa da Ucrânia produziria sofrimento humano generalizado e diminuiria a posição da Rússia”. O comunicado também afirma que a diplomacia é a prioridade, mas que os Estados Unidos estão “igualmente preparados para outros cenários”.

Vladimir Putin e Joe Biden na cúpula de Genebra, em junho de 2021 (Foto: Wikimedia Commons)

A diplomacia

Os Estados Unidos afirmaram repetidas vezes que a Rússia pode invadir a Ucrânia “a qualquer momento”, enquanto Moscou insiste em negar essa intenção. Nesta segunda (14), o Ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, recomendou a Putin que tente novamente uma solução diplomática com o Ocidente, de acordo com a agência Associated Press.

A principal exigência do Kremlin para controlar a crise é a de que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não aceite como seus membros a Ucrânia e outras ex-repúblicas soviéticas, sob o argumento de que a Rússia se sentiria acuada e ameaçada. Também foi exigido que o Ocidente pare de enviar armamento a Kiev e retire suas tropas da Europa Oriental.

De acordo com Lavrov, os EUA e seus aliados rejeitaram categoricamente essas demandas, mas disseram aceitar dialogar sobre limites para implantações de mísseis na Europa, restrições a exercícios militares e outras medidas que permitam estabelecer uma relação de confiança entre Moscou e o Ocidente.

A próxima tentativa de aplacar a crise será feita pelo chanceler alemão Olaf Sholz, que se encontra com o líder ucraniano Volodymyr Zelensky nesta segunda-feira (14), tendo agendada para terça (15) uma visita a Putin em Moscou. Berlim, porém, admite que não espera obter “resultados concretos” nos encontros, segundo a agência Reuters.

A Ucrânia chegou a sinalizar que aceitaria abandonar a demanda de se juntar à Otan, se isso fosse capaz de solucionar o impasse diplomático. Porém, nesta segunda (14), o embaixador ucraniano no Reino Unido, Vadym Prystaiko, voltou atrás em sua afirmação, embora tenha dito que outras concessões podem ser oferecidas à Rússia.

A guerra

Enquanto líderes de diversos países tentam costurar um acordo diplomático capaz de congelar a escalada de tensão nas fronteiras da Ucrânia, a movimentação militar não para. Um oficial do exército russo afirmou nesta segunda (14) que a Rússia está pronta para abrir fogo contra embarcações estrangeiras que entrem ilegalmente em seu território.

A afirmação foi feita por Stanislav Gadzhimagomedov, vice-chefe do principal departamento operacional do Estado-Maior Geral. Segundo ele, porém, qualquer decisão desse tipo seria tomada apenas no “nível mais alto”, de acordo com informações da agência Reuters.

Dois dias antes, no sábado (12), Moscou diz que um embarcação da sua marinha detectou a presença de um submarino norte-americano em aguas russas no Pacífico. Washington negou ter realizado uma operação militar na área.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e segue até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e contam com o suporte de Moscou. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, com a ameaça de uma invasão integral da Rússia à Ucrânia.

Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilha com seus aliados informações de inteligência. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

A inteligência da Ucrânia calcula a presença de mais de 120 mil tropas nas regiões de fronteira, enquanto especialistas calculam que sejam necessárias 175 mil para uma invasão. Já a inteligência dos EUA afirma que um eventual ataque ao país vizinho por parte da Rússia ocorreria pela Crimeia e por Belarus.

Um conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, se isso ocorrer, as tropas russas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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