Rússia envia seis navios de guerra para realizarem manobras militares no Mar Negro

Turquia confirmou o deslocamento das embarcações e poderia impedir a passagem delas, mas não deve agir nesse sentido

O governo da Rússia enviou nesta terça-feira (8) seis navios de guerra que estavam no Mediterrâneo para o Mar Negro, onde realizarão manobras militares previamente agendadas. A informação foi confirmada pelo Ministério da Defesa russo à agência estatal russa Interfax e reproduzida pela agência Reuters.

No mês passado, Moscou anunciou que sua marinha faria uma série de manobras militares envolvendo toda a frota, no Atlântico e no Pacífico, em mais uma demonstração de força diante do risco iminente de uma invasão russa à Ucrânia.

De acordo com a Turquia, os seis navios russos passarão pelo estreito turco, rumo ao Mar Negro, nestas terça (8) e quarta (9). Tecnicamente, Ancara poderia bloquear o estreito e impedir a passagem dos navios, o que, entretanto, não deve ocorrer.

“A Turquia está autorizada a fechar o estreito para todos os navios de guerra estrangeiros em tempo de guerra ou quando estiver ameaçada de agressão. Além disso, está autorizada a recusar o trânsito de navios mercantes pertencentes a países em guerra com a Turquia”, disse Yoruk Isik, analista geopolítico baseado em Istambul.

Navios de guerra russos Kerch e Smetlivy (Foto: Wikimedia Commons)

A Turquia, que faz fronteira marítima com Ucrânia e Rússia no Mar Negro, tem se posicionado contra o possível conflito. Nesse sentido, o presidente Recep Erdogan se ofereceu para mediar a disputa entre Moscou e Kiev, vez que mantém relações cordiais com os dois países. Porém, como membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), ele diz que fará o que for necessário em caso de invasão russa.

Tropas em Belarus

Moscou anunciou também nesta terça (8) que os soldados que foram enviados a Belarus para a realização de exercícios militares conjuntos retornarão à Rússia. Na semana passada, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, disse que 30 mil combatentes e armas modernas haviam sido enviados ao país vizinho pelo Kremlin, que, por sua vez, falou em menos de 13 mil soldados.

Agora, encerradas as manobras, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que as tropas “voltarão aos seus locais permanentes”, segundo o site independente The Moscow Times. “Ninguém nunca disse que as tropas russas permaneceriam no território de Belarus. Isso nunca foi discutido”, disse Peskov.

Moscou e Minsk anunciaram em janeiro os exercícios militares conjuntos perto das fronteiras com a Ucrânia e com Estados-Membros da Otan. As manobras foram batizadas Allied Resolve (Determinação Aliada, em tradução livre).

Por que isso importa?

A Rússia apoia os separatistas ucranianos que enfrentam as forças de Kiev na região leste da Ucrânia desde abril de 2014. O conflito armado, que já matou mais de dez mil pessoas, opõe o governo ucraniano às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass.

O conflito fez aumentar a tensão entre os dois países, que já era alta desde a anexação da Crimeia pela Rússia. Em 2021, a situação ficou especialmente delicada, com a ameaça de uma invasão russa à Ucrânia que tende a aumentar em 2022.

Washington tem monitorado o crescimento do exército russo na região fronteiriça e compartilhou informações de inteligência com seus aliados. Os dados apontam um aumento de tropas e artilharia russas que permitiriam um avanço rápido e em grande escala, bastando para isso a aprovação de Putin e a adoção das medidas logísticas necessárias.

A inteligência da Ucrânia calcula a presença de mais de 120 mil tropas nas regiões de fronteira, enquanto especialistas calculam que sejam necessárias 175 mil para uma invasão. Já a inteligência dos EUA afirma que um eventual ataque ao país vizinho por parte da Rússia ocorreria pela Crimeia e por Belarus.

Um conflito, porém, não seria tão fácil para Moscou como os anteriores. Isso porque, desde 2014, o Ocidente ajudou a Ucrânia a desenvolver e ampliar suas forças armadas, com fornecimento de armamento, tecnologia e treinamento. Assim, embora Putin negue qualquer intenção de lançar uma ofensiva, se isso ocorrer, as tropas russas enfrentariam um exército ucraniano muito mais capaz de resistir.

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