Defasada, indústria militar dos EUA compromete a defesa do país contra a China, diz relatório

Analistas citam o exemplo da Guerra fria e dizem que é preciso gastar mais com armas para conter os 'Estados autoritários'

Conforme a China aumenta o investimento militar, focada sobretudo em munições e novas tecnologias para seu Exército de Libertação Popular (ELP), a base industrial de defesa dos EUA “carece de capacidade” para “satisfazer as necessidades de produção” de suas Forças Armadas e compromete as defesas do país contra seus principais rivais. A conclusão é de um relatório publicado na terça-feira (12) pelo think tank Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês).

O estudo foi conduzido por Seth G. Jones, diretor do programa de segurança internacional do CSIS, e Alexander Palmer, especialista em ameaças transnacionais. Segundo eles, se “mudanças urgentes” não forem implementadas na indústria de defesa pelo governo norte-americano, o país “corre o risco de enfraquecer a dissuasão e minar as suas capacidades de combate contra a China e outros concorrentes.”

Militares norte-americanos em treinamento (Foto: reprodução/Facebook)

Conforme se desenrolam a guerra da Ucrânia e o conflito entre Israel e Hamas em Gaza, o mundo iniciou uma nova corrida armamentista. A China compreendeu isso e colocou sua indústria de defesa para funcionar como se estivesse em tempos de guerra. Já o EUA, segundo o estudo, mantêm seu “ecossistema de defesa” em “condições de paz.”

Beijing anunciou na semana passada que seu orçamento de defesa neste ano aumentará em 7,2%. Existe ainda uma diferença considerável entre os valores que o país anuncia oficialmente e o que efetivamente gasta com suas Forças Armadas. Isso porque o orçamento ignora alguns investimentos militares, como pesquisa e desenvolvimento e as compras de armas produzidas no exterior.

De acordo com o Instituto Internacional de Investigação para a Paz de Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês), os gastos reais da China com defesa tendem a ser entre 30% e 35% maiores que os números revelados oficialmente. Para se ter ideia, a estimativa é de que o país tenha investido US$ 292 bilhões no ELP em 2022, enquanto os números oficiais do governo falam em US$ 230 bilhões.

A vantagem dos EUA, considerando tais números, é enorme. Os dados do Sipri de 2022, indicam que o orçamento de defesa de Washington foi de US$ 877 bilhões, de longe o maior do mundo. Embora mantenham a China em um distante segundo lugar, tais valores deveriam ser ainda maiores, segundo o estudo do CSIS.

“Os Estados Unidos provavelmente não conseguirão renovar a sua base industrial de defesa sem gastos adicionais no desenvolvimento e produção de sistemas de armas necessários à dissuasão e ao combate”, diz o think tank.

Os autores citam um exemplo histórico como base de comparação. Durante a Guerra Fria, o orçamento de defesa dos EUA chegou a representar entre 9% e 11% do PIB (produto interno bruto) do país em seu ápice. Quando as tensões com a União Soviética esfriavam, Washington ainda dedicava 6% de seu PIB às Forças Armadas. É nesses números que, segundo os autores, o governo norte-americano deve se basear.

“O atual orçamento de defesa de cerca de 3% do PIB não é consistente com um ambiente de segurança em que Estados autoritários, como a China, a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte, ameaçam os Estados Unidos e os seus aliados e parceiros em todo o mundo”, diz o texto. “Sem um aumento no financiamento para o desenvolvimento e produção de sistemas de armas, será virtualmente impossível revitalizar a base industrial de defesa para competir com a China.”

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