Departamento de Justiça dos EUA cria unidade focada em terrorismo doméstico

Um ano após a invasão no Capitólio, autoridades observam "ameaça elevada" de extremistas no país

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos anunciou a inauguração de uma unidade especializada em terrorismo doméstico. A criação do setor tem relação ao que foi descrito pela Segurança Nacional como uma “ameaça elevada” de extremistas no país, informou a agência Associated Press.

A declaração do procurador-geral assistente Matthew Olsen vem poucos dias após o aniversário de um ano da invasão no Capitólio, quando apoiadores do presidente Donald Trump tomaram o Congresso em 6 de janeiro de 2021 em um incidente que deixou cinco mortos. Segundo a autoridade norte-americana, o número de investigações do FBI (Departamento Federal de Investigação) sobre a ação suspeita de extremistas locais mais que dobrou desde o primeiro semestre de 2020.

“Vimos uma ameaça crescente daqueles que são motivados pela animosidade racial, bem como daqueles que se atribuem a ideologias extremistas antigovernamentais e antiautoritárias”, disse Olsen.

Manifestantes do lado de fora do prédio do Capitólio segurando bandeiras com o slogan de Trump “Make America Great Again” (Foto: Tyler Merbler/WikiCommons)

A criação da nova unidade revela preocupações com o extremismo praticado por cidadãos norte-americanos, ofuscado pela ameaça do terrorismo internacional durante um longo período por conta dos ataques de 11 de setembro, mas que agora ganha atenção urgente de Washington.

A questão desperta divergências políticas, particularmente pela ausência de um estatuto federal de terrorismo doméstico, que gera ambiguidades sobre exatamente que tipo de violência atende a essa definição. Segundo explica a reportagem, o código penal dos EUA define terrorismo doméstico como “violência destinada a coagir ou intimidar uma população civil e influenciar a política do governo, mas não há uma acusação de terrorismo doméstico independente, o que significa que os promotores precisam confiar em outras leis”.

Segundo Jill Sanborn, diretora assistente executiva encarregada do ramo de segurança nacional do FBI, a maior ameaça vem de extremistas solitários ou pequenas células que agem na internet e direcionam a violência nos chamados “alvos fáceis”.

“Isso inclui tanto extremistas violentos locais inspirados principalmente por organizações terroristas estrangeiras quanto extremismo violento doméstico”, disse Sanborn nesta terça-feira (11).

Conflito ideológico

Em audiência nesta terça, o assunto levantou visões opostas entre democratas e republicanos. O senador Richard Durbin, de Illinois, presidente democrata do comitê, exibiu o vídeo da insurreição de 6 de janeiro e pediu aos presentes para que usassem o painel “para condenar explicitamente o uso ou a ameaça de violência para avançar objetivos políticos”.

“É um pedido simples, mas infelizmente necessário”, acrescentou Durbin. “Este comitê deve falar com uma voz unificada ao dizer que a violência é inaceitável.”

Em contraponto às imagens mostradas pelo colega, o senador Chuck Grassley, de Iowa, principal republicano presente, mostrou um vídeo da violência de 2020 registrada durante os protestos por justiça racial que eclodiram no país após a morte de George Floyd, sufocado por policiais.

“Aqueles tumultos contra a polícia abalaram nossa nação por sete meses inteiros”, disse Grassley.

O FBI e o Departamento de Justiça dizem que tratam a violência doméstica extremista da mesma forma, independentemente da ideologia. Sanborn disse que o FBI abriu mais de 800 investigações relacionadas aos distúrbios de 2020 e prendeu mais de 250 pessoas. O procurador-geral Merrick Garland disse na semana passada que o Departamento de Justiça prendeu e acusou mais de 725 pessoas por seus supostos papéis no ataque de 6 de janeiro.

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