EUA devem estar preparados para responder à invasão de Taiwan ainda em 2022, diz almirante

“O que vimos nos últimos 20 anos é que eles cumpriram todas as promessas antes do que disseram que iriam cumprir”, diz Michael Gilday

As forças armadas norte-americanas devem estar preparadas para responder a qualquer momento à invasão de Taiwan pela China. O alerta foi feito pelo almirante Michael Gilday, chefe de operações navais dos EUA. Segundo ele, a agressão pode ocorrer mais cedo que se imaginava, talvez ainda em 2022. As informações são do jornal honconguês South China Morning Post.

A manifestação de Gilday vem na esteira do pronunciamento do presidente Xi Jinping durante o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que começou domingo (16) em Beijing. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse o líder chinês. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.

Almirante Michael Gilday, chefe de operações navais dos EUA (Foto: nara.getarchive.net)

Ao justificar sua projeção pessimista, o almirante afirmou que “não é apenas o que o presidente Xi diz, mas é como os chineses se comportam e o que eles fazem”. E explicou: “O que vimos nos últimos 20 anos é que eles cumpriram todas as promessas antes do que disseram que iriam cumprir”.

No ano passado, o então almirante Philip Davidson, à época chefe do comando dos EUA no Indo-Pacífico e hoje aposentado, afirmou que a China tentaria anexar Taiwan “ao longo dos próximos seis anos”. Agora, Gilday diz que as forças armadas norte-americanas não podem se ater a essa projeção distante.

“Então, quando falamos sobre a janela de 2027, na minha opinião, deve ser uma janela de 2022 ou potencialmente uma janela de 2023. Não posso descartar”, afirmou o militar.

Questionado sobre a postura cada vez mais agressiva da China, bem como da Rússia, Gilday destacou a AUKUS, aliança militar firmada com o Reino Unido para fornecer submarino nuclear e tecnologia de drones subaquáticos à Austrália, e as recentes conversas com o Japão, outro país que está em alerta para a belicosidade chinesa e por isso planeja aumentar seu orçamento militar para US$ 40 bilhões.

“Há pouco ou nada que fazemos no dia-a-dia que não estejamos fazendo em conjunto com nossos aliados e parceiros. Essas relações são absolutamente críticas”, declarou o almirante norte-americano. “São relacionamentos que os chineses ou os russos não desfrutam nos mesmos números que nós. Vemos isso como uma vantagem assimétrica”.

Apoio militar

Apesar das declarações de Gilday, ainda persiste uma grande dúvida quanto à possível ajuda militar dos EUA a Taiwan em caso de uma eventual invasão da ilha. Em setembro, em entrevista à rede CBS, o presidente Joe Biden chegou a afirmar que “sim”, enviaria tropas para defender Taiwan em caso de uma agressão chinesa.

Na ocasião, o entrevistador comparou a situação da ilha à da Ucrânia, onde as tropas norte-americanas não agiram diante da invasão russa, embora o governo forneça armamento crucial para a defesa de Kiev. “As Forças dos EUA, homens e mulheres dos EUA defenderiam Taiwan no caso de uma invasão chinesa?”, questionou o jornalista Scott Pelley, a que Biden respondeu objetivamente: “Sim”.

A resposta afirmativa é até agora o mais claro posicionamento de Washington sobre sua atuação militar em socorro à ilha autogovernada. Formalmente, porém, a política diplomática norte-americana é de ambiguidade, respeitando o compromisso firmado com Beijing de apoio ao conceito “Uma Só China”, que considera Taiwan parte do Estado chinês.

Na segunda-feira (17), o secretário de Estado Antony Blinken manteve o tom ambíguo ao afirmar apenas que os EUA honrarão seus compromissos com a ilha, segundo a rede britânica BBC. Não entrou em maiores detalhes a ponto de explicar o que isso significa.

Caminho semelhante seguiu o secretário de Defesa Lloyd Austin em entrevista ao podcast GPS, no início de outubro. Questionado se Washington está se preparando para enviar tropas a Taiwan, como declarou o presidente, ele preferiu não se comprometer. “As forças armadas americanas estão sempre preparadas para proteger nossos interesses e cumprir nossos compromissos. Acho que o presidente foi claro ao fornecer suas respostas a uma pergunta hipotética”, disse.

Navio norte-americano no Mar da China Meridional, julho de 2020 (Foto: Marinha dos EUA/Flickr)
Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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