Israel acompanha os EUA e também condena presença de navios de guerra iranianos no Brasil

Jerusalém junta-se a Washington ao criticar o Brasil por hospedar as embarcações, dizendo que foi um "prêmio" para Teerã, que estaria desafiando o Ocidente

O atracamento de dois navios de guerra iranianos nesta semana no Brasil gerou reprimendas dos Estados Unidos, inclusive com ameaça de sanções feitas por um senador republicano. Na quinta-feira (2), Israel engrossou as críticas de Washington e também condenou o governo brasileiro, argumentando que a República Islâmica é um “Estado terrorista” que viola direitos humanos e pratica comércio ilegal de armas para grupos extremistas.

Pelo Twitter, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, Lior Haiat, criticou o aval concedido pelo comando da Marinha para a ancoragem das embarcações Iris Makran e Iris Dena no porto do Rio de Janeiro, onde têm permissão para ficar até sábado (4).

“Israel vê o atracamento de navios de guerra iranianos no Brasil há alguns dias como um desenvolvimento perigoso e lamentável”, escreveu Haiat. “O Brasil não deve conceder nenhum prêmio a um Estado maligno”.

Haiat também acusou Teerã de “proliferação de armas para organizações terroristas em todo o Oriente Médio”. Ainda citou que “o regime iraniano executou dezenas de ataques terroristas contra navios, colocando em perigo a liberdade de navegação marítima”. Ele observou que “dois dos ataques ocorreram nas últimas semanas”.

Israel e Irã estão presos há décadas em um conflito no estilo da Guerra Fria, que inclui acusações mútuas de sabotagem marítima, como observou a agência Reuters. Um dos casos recentes envolveu o petroleiro Pacific Zircon, pertencente ao empresário israelense Idan Ofer, que foi alvo de um ataque realizado por um drone iraniano em dezembro quando navegava pela costa de Omã.

O sinal verde do comando da Marinha brasileira para o atracamento ignorou a recomendação da Casa Branca, que aplicou sanções unilaterais ao Irã, bem como deu de ombros para a manifestação da embaixadora norte-americana no Brasil, Elizabeth Bagley, que no dia 15 de fevereiro disse a repórteres que “esse navios não deveriam atracar em nenhum lugar”. 

O IRIS Makran é o maior navio de guerra da frota naval iraniana (Foto: WikiCommons)

Brasília não reconhece as sanções unilaterais dos Estados Unidos ao Irã, impostas quando Washington abandonou o acordo nuclear em 2018 durante o governo Trump, firmado três anos antes na Era Obama para que os iranianos deixassem de investir em armas nucleares. Isso porque o país adotou o princípio de somente legitimar as condenações aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), o que serviu como base para aprovar o pedido de Teerã para a visita de sua frotilha.

Para Pedro Brites, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o que serviu como base para que o Brasil tomasse uma decisão nesse sentido foi o princípio da não intervenção, o respeito à soberania e “a tradição brasileira de se colocar como um mediador, um ator que busca a pacificação e que efetivamente não adota sanções unilaterais”, disse ele à reportagem de A Referência.

A diplomacia com o Irã é um dos mais lembrados esforços de Lula pelo fortalecimento da posição internacional do Brasil durante suas administrações anteriores. Em 2010, durante o segundo mandato do líder petista, ele viajou para Teerã para se encontrar com o então presidente ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad – conhecido pelo discurso linha-dura e pela nuclearização –, buscando mediar um acordo nuclear entre o Irã e os Estados Unidos.

Por que isso importa?

A turbulência diplomática protagonizada por Brasil e Irã ocorre em meio à agitação social que domina o país do Oriente Médio. Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas iranianas após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.

Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.

No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.

Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.

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