Após o Brasil ter ignorado a pressão dos Estados Unidos para barrar a ancoragem de dois navios da frota iraniana no porto do Rio de Janeiro, que ocorreu no último domingo (26), o senador republicano pelo Texas Ted Cruz fez críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sugeriu sanções ao país. As informações são da rede Al Arabiya.
“O atracamento de navios de guerra iranianos no Brasil é uma evolução perigosa e uma ameaça direta à segurança dos americanos”, disse o parlamentar em comunicado nas suas redes sociais.
O político, que é membro da Comissão de Comércio, Ciência e Transporte do Senado, enfatizou que as embarcações Iris Makran e Iris Dena já foram sancionadas por Washington, o que significa que o porto do Rio de Janeiro, onde a frotilha tem permissão para permanecer até sábado (4), agora corre o risco de sofrer penalidades dos EUA. Segundo Cruz, o mesmo poderá valer para empresas brasileiras e estrangeiras que prestaram serviços aos navios.
O senador ainda disse que o presidente Lula é contra Washington e endossa uma ideologia de esquerda política baseada nas ideias, programas e estilo de governo do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez.
“O próprio Lula é um chavista alinhado contra os Estados Unidos e nossos interesses”, acrescentou Cruz.
Na mesma nota, ele observou que o governo Biden é “obrigado a impor sanções relevantes”, bem como deve reavaliar a cooperação do Brasil com os esforços antiterroristas norte-americanos e reexaminar se Brasília mantém tais medidas de forma eficaz em seus portos.
“Se o governo não o fizer, o Congresso deve forçá-los a fazê-lo”, afirmou.
O lado iraniano
Por meio do contra-almirante Hamzeh Ali Kaviani, a Marinha iraniana saudou a chegada ao porto brasileiro do Rio de Janeiro
“O poderio militar do Irã está aumentando a cada dia, apesar de todas as pressões contra a República Islâmica nos últimos 43 anos”, disse a autoridade militar à mídia estatal iraniana Press TV, aparentemente fazendo menção à missão de aumentar a capacidade bélica e a presença marítima internacional, sob ordens do líder supremo do país, o aiatolá Ali Khamenei.
O sinal verde do comando da Marinha brasileira para o atracamento deu de ombros tanto para a recomendação da Casa Branca, que aplicou sanções unilaterais ao Irã, quanto para a manifestação da embaixadora norte-americana no Brasil, Elizabeth Bagley, que no dia 15 de fevereiro disse a repórteres que “esse navios não deveriam atracar em nenhum lugar”.
A sensibilidade diplomática que envolveu a situação foi acentuada pela visita de Lula à Casa Branca, onde teve encontro no último dia 10 com seu homólogo Joe Biden. Por conta do encontro, para não gerar mal-estar, a chegada dos navios foi adiada.
“O presidente Biden chama o presidente brasileiro de amigo e disse que teve a honra de recebê-lo na Casa Branca. Então, ou esses riscos não foram transmitidos ou os brasileiros não se importaram”, observou Cruz.
O senador ainda ironizou com um “meme” a relação entre Lula e Biden ao publicar em sua página no Facebook uma imagem que mostra o encontro entre os líderes e outra com uma chamada para reportagem da agência Reuters sobre a visita dos navios de guerra, acompanhadas da frase “Como começou/Como está indo”.
Washington, em meio à crescente tensão com Teerã, avaliou a situação como uma “provocação” do rival, alegando que a República Islâmica fomenta o comércio de produtos ilegais e o terrorismo e agora quer demonstrar poder naval e ampliar sua presença marítima internacional.
Ao contrário do Brasil, Chile, Argentina e Uruguai rejeitaram o pedido de Teerã e vetaram a ancoragem. Quem também balançou a cabeça em sinal de desaprovação foram ativistas de direitos humanos que monitoram o caos social no país do Oriente Médio após a morte de Mahsa Amini, como declarou à reportagem de A Referência a Center For Human Rights in Iran (CHRI), uma organização independente sediada em Nova York.
As embarcações
Com 228 metros de comprimento, o imponente IRIS Makran é o maior navio militar da Marinha da República Islâmica do Irã. A embarcação, que no passado era usada como um navio petroleiro, foi convertida em base expedicionária e serve como plataforma para múltiplas funções. Entre elas, é um porta-helicópteros.
O IRIS Makran é o maior navio de guerra da frota naval iraniana (Foto: WikiCommons)
Já a fragata IRIS Dena, projetada e construída no Irã, é igualmente usada para uma variedade de atividades, incluindo defesa costeira, guerra antissubmarina e patrulha marítima. Ela é equipada com canhões e tem capacidade para disparar misseis e torpedos.
Segundo o Itamaraty, a visita das embarcações celebra os “120 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Irã”. O pedido partiu da Embaixada do Irã em Brasília.
Por que isso importa?
A turbulência diplomática protagonizada por Brasil e Irã ocorre em meio à agitação social que domina o país do Oriente Médio. Nos últimos meses, protestos populares tomaram as ruas iranianas após a morte de Mahsa Amini, uma jovem de 22 anos que visitava Teerã quando foi abordada pela “polícia da moralidade” por não usar “corretamente” o hijab, o véu obrigatório para as mulheres. Sob custódia, ela desmaiou, entrou em coma e morreu três dias depois.
Os protestos começaram no Curdistão, província onde vivia Mahsa, e depois se espalharam por todo o país, com gritos de “morte ao ditador” e pedidos pelo fim da república islâmica. As forças de segurança iranianas passaram a reprimir as manifestações de forma violenta, com relatos de dezenas de mortes.
No início de outubro, a ONG Human Rights Watch (HRW) publicou um relatório que classifica o regime iraniano como “corrupto e autocrático”, denunciando uma série de abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão aos protestos populares.
Além dos mortos e feridos, a HRW cita os casos de “centenas de ativistas, jornalistas e defensores de direitos humanos” que, mesmo de fora dos protestos, acabaram presos pelas autoridades. Condena ainda o corte dos serviços de internet, com plataformas de mídia social bloqueadas em todo o país desde o dia 21 de setembro, por ordem do Conselho de Segurança Nacional do Irã.