Médicos são demitidos após comentários sobre Covid-19 na Nicarágua

Profissionais pediram em carta que o governo reconhecesse aumento de casos e necessidade de medidas preventivas

Ao menos dez médicos foram demitidos após manifestarem preocupação com a gestão da pandemia do coronavírus pelo governo do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega. A denúncia é da ONG Human Rights Watch.

No dia 18 de maio, mais de 700 profissionais da saúde dos setores privado e público assinaram uma carta de repúdio. Nela, pediam que o governo reconhecesse que o vírus estava se propagando pela Nicarágua e que implementasse medidas preventivas.

Cerca de 15 dias depois, o Ministério da Saúde do país demitiu vários trabalhadores do sistema de saúde público que assinaram a carta. Nesses desligamentos, não foram respeitadas as leis trabalhistas locais.

A Human Rights Watch aponta que o presidente Daniel Ortega tem lidado com a pandemia com “negação, inação e sigilo”. Ao contrário do recomendado, o governo inicialmente promoveu eventos esportivos e outras reuniões em massa e não suspendeu as aulas na rede pública.

Em abril, Ortega afirmou ser contra campanhas públicas que incentivassem as pessoas a ficarem em casa. Nessa ocasião, também chamou quem encorajava essas medidas de “radicais” e “extremistas”.

A ONG aponta que não é a primeira vez que a gestão de Ortega age em retaliação a profissionais da saúde. Em 2018, pelo menos 400 médicos foram demitidos de vários hospitais públicos após prestarem atendimento a vitimas de violência.

Médicos são demitidos após comentários sobre Covid-19 na Nicarágua
Vista de Managuá, capital da Nicarágua (Foto: Wikimedia Commons)

Ocultação

O governo ainda tem mantido um rígido controle das informações relacionadas ao coronavírus. Apenas o Centro Nacional de Diagnóstico e Referência realiza os testes de diagnóstico no país.

Os dados oficiais, divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde), apontam apenas 2 mil casos confirmados da doença e 64 mortes até esta terça (23). Profissionais da saúde sugerem que o número pode ser muito maior.

A ONG Observatório Cidadão Covid-19 registrou, até 10 de junho, quase 5 mil casos suspeitos e mais de 1,3 mil mortes que poderiam estar ligadas ao novo coronavírus.

Há ainda denúncias de médicos e familiares de que o governo está negando diagnóstico da doença para ocultar sua disseminação.

Os enterros das supostas vítimas ocorrem de maneira rápida, em até duas horas. Neles, os parentes são monitorados de perto por funcionários do governo e pela polícia.

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