Ao mesmo tempo em que registra um aumento acelerado no número de casos, o governo da Índia tem permitido a reabertura de locais de trabalho, espaços religiosos, hotéis e restaurantes. As informações são da revista Foreign Policy.
O país registrou até esta terça (23) 440 mil casos do novo coronavírus e 14 mil mortes, segundo dados divulgados pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O país já ultrapassou nações como Reino Unido, Espanha e Itália.
As medidas das autoridades indianas, em tese, visam uma rápida recuperação econômica. O Banco Central do país já estimou que o crescimento da economia para este ano será negativo. A estimativa está em linha com o forecast mais recente do Banco Mundial, de retração de 3,2%.
No país hospitais já estão sem leitos e respiradores para atender novos pacientes. Muitos começam a ter a internação recusada, e o vírus começa a chegar nas áreas rurais da Índia. Até agora, Nova Délhi e Mumbai somam cerca de um terço do total de casos.
A estimativa das autoridades é de que, no fim do próximo mês, apenas Nova Délhi registre 550 mil casos. Previsões mais pessimistas apontam para um milhão de casos em todo o país até esse período.
Saúde precária e sobrecarregada
A situação não surpreende alguns especialistas, já que o sistema de saúde recebe apenas 1,3% do PIB por ano. Mesmo se não houvesse pandemia, a expectativa era de crise na área da saúde.
Para cada mil pessoas, o país tem apenas 0,9 médicos e 1,7 enfermeiros. A média global é de 1,6 médicos e 3,8 enfermeiros para a mesma quantidade de habitantes.
Na atual crise, Mumbai tinha apenas 17 leitos de UTI e 12 ventiladores diante de 55,3 mil casos confirmados da doença. Já Nova Délhi, com mais de 41 mil infecções, tinha apenas 62 leitos de UTI e 26 ventiladores.
Nos próximos meses, os profissionais de saúde terão ainda que lidar com o pico de internações por doenças como malária e dengue, que aumentam durante o período de monções.
Em 2019, o país registrou mais de 334 mil casos de malária e mais de 136 mil casos de dengue.
Baixa testagem
Os números oficiais são altos, mas podem ser ainda maiores, já que os níveis de testes de diagnóstico são relativamente baixos. Enquanto a Itália realizou 79,91 testes a cada mil pessoas, a Índia realizou apenas 4,66. O Brasil testou por volta de oito pessoas em cada mil.
Além disso, os laboratórios do país estão sobrecarregados, atrasando a entrega dos resultados. A situação contribui com a disseminação do vírus, já que um paciente demora a saber que está infectado e continua circulando.
Um estudo divulgado pelo Conselho Estadual de Pesquisas Médicas da Índia mostra que 0,73% da população em 83 distritos indianos teve histórico de infecção por Covid-19.
Se esses números forem levados em consideração, o país teria até agora nove milhões de casos confirmados da doença, e não os 440 mil casos anunciados oficialmente.
O número baixo de testes diminui ainda a probabilidade dos números de mortos pela doença condizerem com a realidade. A Índia registrou 14 mil óbitos, enquanto o Reino Unido teve 41 mil mortes e a Espanha, 27 mil.