Profissionais de saúde são coagidos por governo do Egito, acusa Anistia Internacional

Há relatos de profissionais presos por criticarem atitudes das autoridades diante à pandemia do coronavírus

Profissionais de saúde que expressam preocupação em relação à pandemia do novo coronavírus ou que criticam a forma como as autoridades tratam a crise no Egito estão sendo intimidados pelo governo do país, segundo denúncia feita pela Anistia Internacional nesta quinta (18).

De acordo com a organização, o governo egípcio tem usado vagas e amplas acusações de “divulgação de fake news” e “terrorismo”. A tática é prender trabalhadores da área da saúde que se manifestam em relação ao assunto.

Os alvos são profissionais que denunciaram condições de trabalho inseguras. Entre elas estão falta de equipamentos de proteção individual, treinamento insuficiente, teste limitados para os profissionais na linha de frente e falta de acesso aos cuidados vitais de saúde.

Alguns desses profissionais da saúde egípcios chegam a ser privados de atendimento médico como punição pelas manifestações. Outros são transferidos para hospitais em outras províncias, longe de suas famílias, e para unidades onde infectados pelo Covid-19 estão de quarentena.

Um comunicado do governo da província egípcia de Sinai do Norte, do qual a organização teve acesso, alerta que profissionais que se recusem a realizar seu trabalho serão convocados pela Agência Nacional de Segurança.

No Egito, pelo menos 68 profissionais que trabalham na linha de frente nos hospitais morreram. Mais de 400 testaram positivo para o coronavírus desde o início do surto, segundo dados do Sindicato dos Médicos local.

No entanto, o número pode ser maior, já que não inclui mortes de enfermeiros, dentistas, farmacêuticos, técnicos e funcionários da limpeza.

Profissionais de saúde são coagidos por governo do Egito, acusa Anistia Internacional
Amostra para teste colida pelo método RT-PCR (Foto: Hélia Scheppa/SEI-PE)

Casos conhecidos

A Anistia Internacional documentou o caso de oito profissionais da saúde, seis médicos e dois enfermeiros. O grupo foi detido pela agência de segurança entre março e junho deste ano. As detenções aconteceram depois que eles manifestaram preocupação em relação à crise em redes sociais.

Alaa Shaaban Hamida, uma médica de 26 anos, foi uma delas. Em março, ela foi presa no hospital onde trabalha, em Alexandria. Hamida foi denunciada pelo diretor da unidade por ter relatado um caso de coronavírus direto ao Ministério da Saúde.

Grávida, a médica está detida sob a acusação de pertencer a um grupo terrorista, espalhar notícias falsas e usar indevidamente as redes sociais.

Um grupo de médicos que se demitiu de um hospital no Egito por acreditar que a falta de treinamento e decisões arbitrárias do governo levaram à morte de um colega por Covid-19.

Oficiais da agência de segurança chegaram a visitar a unidade de saúde para pressionar os profissionais a retirarem o pedido de demissão.

Antes da pandemia

Segundo a denúncia da Anistia Internacional, os casos de prisão por críticas ao sistema de saúde egípcio ocorriam antes mesmo do início da pandemia do coronavírus.

Em setembro do ano passado, cinco médicos foram presos por lançarem uma campanha que exigia a reforma do sistema de saúde do país e a prevenção da saída de profissionais do país.

Um deles ainda está detido, por ter expressado na internet suas opiniões sobre más remunerações e condições de trabalho. O profissional também denunciou instalações de saúde precárias.

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