Rivais norte-americanos se aproveitam da distração dos EUA com o novo coronavírus — que já fez 107 mil vítimas em seu território, segundo a Universidade Johns Hopkins — para agir, segundo o jornal norte-americano The New York Times.
Nas últimas semanas, a China tem pressionado as suas tropas no território fronteiriço que disputa com a Índia, aumentado as ações agressivas no Mar da China Meridional, e reescrito regras de controle em Hong Kong.
Ao mesmo tempo, a Rússia avança seus jatos próximo a aviões da marinha norte-americana no Mar Mediterrâneo. As forças espaciais russas ainda realizaram um teste de mísseis anti-satélite.
A NSA (Agência Nacional de Segurança) dos Estados Unidos alertou ainda para um suposto novo ataque a e-mails neste ano, no qual há eleições presidenciais em novembro. A crescente influência de mercenários russos na Líbia também preocupa.
Já a Coreia do Norte informou que está acelerando seu desarmamento nuclear, indo além das promessas e da troca de elogios de Kim Jong-un com o presidente Donald Trump.
Vácuos de poder
Para o Times, em alguns casos Trump tem até ajudado seus concorrentes. Ao anunciar o corte de laços com a OMS (Organização Mundial da Saúde), o presidente norte-americano abriu mais espaço para a influência da China sob a organização.
O presidente ainda convidou a Rússia para um encontro do G7, apesar da crescente tensão entre os dois países. Moscou havia sido banida do encontro das principais potenciais mundiais após a anexação da Crimeia, em 2014, e dos ataques no leste da Ucrânia.
A saída de outros vários órgãos da ONU e de importantes acordos internacionais, como o Tratado Open Skies, enfraquece os laços com aliados e cede terreno à China, Rússia e outros países tidos como rivais.
Mas os EUA não deixaram de agir. Além de acelerar uma nova corrida armamentista e nuclear, o país navegou pelo sul do Mar da China Meridional para firmar os direitos de livre navegação. É mais um capítulo do impasse com Beijing, que afirma controlar o território.
Oriente Médio
O Irã também estaria testando os limites dos EUA.
Segundo o secretário de Estado Mike Pompeo, o país estaria restabelecendo a infraestrutura necessária para fazer uma bomba nuclear. Seria uma reação à decisão de Trump em impor sanções contra o país, há dois anos, e reafirmada nas últimas semanas.
Teerã tem gradualmente acelerado sua produção nuclear. Também tem ignorado pedidos de inspeção internacional em locais suspeitos de ligação com atividades nucleares.
No Golfo Pérsico, barcos iranianos conduziram o que a marinha norte-americana caracterizou como “aproximação perigosa e hostil” contra seis navios de guerra dos EUA em meados de abril. Depois de ameaça, os iranianos recuaram.
Mas outra investida incomodou os norte-americanos: o envio de navios petroleiros para a Venezuela, apesar do embargo liderado pelos EUA contra o presidente Nicolás Maduro.
Segundo o Financial Times, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, chegou a afirmar aos EUA que seu país responderia a qualquer problema enfrentado por seus navios. Rouhani disse esperar que os norte-americanos não “cometessem um erro”.
Na Síria e no Iraque, o Estado Islâmico voltou a atacar depois que as tropas norte-americanas suspenderam treinamentos militares no Iraque por conta do coronavírus. Na região, Rússia e China se tornam cada vez mais ativas.
Ásia
Com a presença cada vez menor dos EUA no sudeste asiático, a China tem se aproveitado para expandir sua projeção militar. As ambições se estendem das águas do Pacífico e da Índia até o Himalaia.
Tentando reforçar sua autoridade hegemônica sobre a Ásia, os chineses continuam suas reivindicações territoriais no Mar do Sul da China. Houve confrontos com o Vietnã, Malásia, Indonésia e Filipinas.
Já os EUA seguem a estratégia do ex-presidente Barack Obama de não tomar partido em disputas territoriais na região, alegando a manutenção da liberdade de navegação na região.