Suposto operador de delegacia chinesa nos EUA é conhecido de protestos pró-Beijing

Lu Jianwang, preso nesta semana em Nova York, participou de manifestação durante visita da presidente de Taiwan à cidade

Lu Jianwang, preso nesta semana pela Justiça dos Estados Unidos sob suspeita de servir a um centro de polícia ilegal estabelecido pelo governo da China em Nova York, é um rosto conhecido nas manifestações pró-Beijing. Em março, quando a presidente taiwanesa Tsai Ing-wen esteve na cidade, ele era uma das pessoas em frente ao hotel que hospedou a líder da ilha semiautônoma, erguendo um cartaz que dizia “Traidora” e gritando palavras de ordem em defesa da reunificação de seu país natal. As informações são da rede Radio Free Asia.

Aos 61 anos, Lu, acusado ​​de “conspirar para atuar como agente do governo chinês” e de obstruir a justiça, é popular em Chinatown, um bairro localizado em Manhattan que abriga um dos maiores enclaves de chineses no hemisfério ocidental. Lá, ele é conhecido por histórias que conta aos compatriotas sobre sua boa relação com o governo chinês, como na oportunidade em que foi homenageado por autoridades em sua cidade natal, na província de Fujian.

“Ele costuma falar sobre como foi tratado com boa comida e tapete vermelho ao voltar para sua cidade natal”, relatou uma pessoa sob condição de anonimato.

Bairro Chinatown, em Nova York (Foto: WikiCommons)

De acordo com as acusações, Lu, de fato, tinha uma “relação de confiança de longa data” com o governo da China, inclusive com funcionários do Ministério da Segurança Pública (MPS, da sigla em inglês), que os EUA e outros países alegam estar por trás dos esforços de Beijing para perseguir os exilados chineses críticos ao regime de Xi Jinping.

Em Nova York, o acusado atuou como presidente da America ChengLe Association New York, uma ONG que descreve sua missão de caridade como um “local de encontro social para o povo de Fujian”. A associação é dona do prédio na East Broadway onde ficava a suposta delegacia da polícia chinesa, segundo o jornal New York Post

A estação secreta foi supostamente montada pelo Departamento Municipal de Segurança Pública de Fuzhou no início do ano passado e posteriormente fechada em outubro, quando agentes de contraespionagem do FBI revistaram um prédio comercial em Chinatown e encontraram o que seria um centro policial chinês suspeito de conduzir operações sem jurisdição ou aprovação diplomática. 

O governo chinês nega as acusações sobre as delegacias de polícia e argumenta que as denúncias feitas pela imprensa dos EUA as “descaracterizaram”.

“O governo chinês cumpre rigorosamente a lei internacional e respeita totalmente a soberania da aplicação da lei de outros países”, disse o porta-voz da Embaixada da China, Liu Pengyu. “Não há violação de leis ou regulamentos”.

No entanto, a Justiça dos EUA alega que a estação operada por Lu e Chen Jinping, também preso no início da semana, era parte de uma campanha global de Beijing para intimidar a dissidência.

Se condenados, eles podem pegar até 20 anos de prisão.

Mais denúncias

Paralelamente às duas prisões, a Justiça norte-americana apresentou outras denúncias criminais contra 44 chineses ligados à atuação do centro de polícia de Nova York, entre eles funcionários do Ministério de Segurança Pública da China e da Administração do Ciberespaço da China.

Conforme a denúncia, “os réus criaram e usaram contas falsas em redes sociais para assediar e intimidar dissidentes da RPC residentes no exterior e buscaram suprimir a liberdade de expressão dos dissidentes na plataforma de uma empresa de telecomunicações dos EUA” cujo nome não foi revelado.

“O Ministério de Segurança Pública da China usou agentes para atingir pessoas de ascendência chinesa que tiveram a coragem de se manifestar contra o Partido Comunista Chinês (PCC), em um caso, espalhando secretamente propaganda para minar a confiança em nossos processos democráticos. E, em outro, suprimindo a liberdade de expressão de usuários de videoconferência nos EUA”, disse Ronnow.

Chineses repatriados

Dados da Safeguard Defenders apontam que, entre abril de 2021 e julho de 2022, 230 mil chineses “foram devolvidos para enfrentar possíveis acusações criminais na China” com ajuda dos centros de polícia. Os métodos adotados “geralmente incluem ameaças e assédio contra membros da família em casa ou diretamente contra o alvo no exterior, seja por meio online ou físico”. Para todos os efeitos, o governo chinês alega que os repatriados são acusados de algum crime.

Com a ajuda desses centros, Beijing impõe vigilância estatal e persegue inclusive grupos étnicos, com destaque para tibetanos e a minoria muçulmana uigur, bem como suas famílias.

Dois “centros de serviço” chineses operam o Brasil, sendo um em São Paulo e o outro no Rio de Janeiro. Entretanto, a Safeguard Defenders afirma que não há registro de assédio contra chineses nessas estações, que aparentemente vêm sendo usadas somente para dar apoio administrativo a turistas e imigrantes.

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