Em Hong Kong, a prisão do empresário Jimmy Lai, sob alegações de Beijing de “conluio com forças estrangeiras” pela postura crítica do jornal “Apple Daily”, fez disparar o preço das ações da empresa dona do diário.
A alta nesta terça bateu 1.200%, o que transforma a controladora do jornal, Next Digital, na companhia de mídia mais valiosa do território. A informação foi divulgada após o pregão pelo jornal local “South China Morning Post“.
O valor da empresa chegou a US$ 266 milhões. Com a alta, superou em valor de mercado a emissora TVB, até então a maior de Hong Kong no segmento de mídia.
O movimento de compra e venda de ações começou nas redes sociais, como protesto pela prisão de Lai. Foram 4,1 bilhões de ações negociadas ao longo do pregão – número cerca de dez vezes maior que o habitual.
Movimentos na Bolsa
Autoridades pediram investigação da comissão local de valores mobiliários. Dados do sistema Bloomberg indicam que as ações estariam sendo movimentadas em lotes de 10 mil, em média, segundo o SCMP.
Isso significa que as compras e vendas viriam de pequenos investidores, em vez de grandes fundos institucionais. Cerca de 44% das ordens de compra eram menores que as habituais, considerando a média dos últimos meses.
A Next Digital de Jimmy Lai informou, em comunicado à Bolsa de Hong Kong, que “o Conselho não sabe de nenhuma razão para esses movimentos de preço e de volume” e que não houve intenção de manipulação por parte da empresa.
A controladora do “Apple Daily” vinha, como a maior parte da imprensa profissional, perdendo dinheiro nos últimos anos. O motivo é a diminuição da receita em publicidade, tradicional financiadora desses veículos.
Nesta terça, milhares se aglomeraram para comprar um exemplar do diário. A tiragem habitual, de 70 mil cópias, chegou a 550 mil para abastecer a demanda. Muitos adquiriam dezenas de cópias para distribui-las.
Lai, dono de 71,3% da empresa, foi detido nesta segunda. O empresário foi enquadrado na controversa lei de segurança nacional imposta por Beijing ao território semiautônomo de Hong Kong.
Em 1997, quando a região trocou de mãos dos britânicos para os chineses, a promessa era a de que o sistema liberal, com mercados e expressão livre, seria mantido por um prazo de 50 anos.
A prisão foi condenada por Washington, Londres e Bruxelas. O secretário de Estado dos EUA classificou a detenção como prova da “evisceração” das liberdades do território.