Pacto de segurança com a China preocupa EUA, que enviarão comitiva às Ilhas Salomão

Sem dar maiores detalhes, Casa Branca diz que delegação "buscará aprofundar ainda mais nossos laços duradouros com a região"

A assinatura de um pacto de segurança entre as Ilhas Salomão e a China, confirmada por Beijing nesta terça-feira (19), acendeu a luz de alerta em Washington. Antes mesmo da assinatura, os EUA haviam anunciado, na segunda (18), que enviarão uma comitiva ao país insular, de acordo com comunicado emitido pelo Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.

A delegação norte-americana, que na região também visitará Fiji e Papua Nova Guiné, será encabeçada por Kurt Campbell, coordenador da Casa Branca no Indo-Pacífico, e pelo principal funcionário do Departamento de Estado para a Ásia, Daniel Kritenbrink, segundo a agência Reuters.

“A delegação – que incluirá representantes do Conselho de Segurança Nacional, do Departamento de Estado, do Departamento de Defesa e da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional – buscará aprofundar ainda mais nossos laços duradouros com a região e promover um Indo-Pacífico livre, aberto e resiliente”, diz o texto, sem entrar em maiores detalhes.

Em fevereiro, o governo norte-americano anunciou que abriria uma embaixada nas Ilhas Salomão, como parte dos esforço do governo Biden para amplificar sua presença diplomática e de segurança no Indo-Pacífico, contendo assim o aumento da influência chinesa nos países vizinhos.

O primeiro-ministro das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare (Foto: Flickr)

Presença militar

No final de março, vazou uma carta de intenções indicando que a China planejava estabelecer uma base militar nas Ilhas Salomão, o que fez soar o alarme na vizinha Austrália e em outros aliados ocidentais no Indo-Pacífico, colocando a pequena nação insular no olho do furacão de um debate tenso sobre o futuro da região.

No documento, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular, para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos”.

Na mesma época em que a carta veio a público, o premiê das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, confirmou que estava prestes a assinar o acordo de segurança com a China. Na ocasião, ele definiu como “insultantes” as preocupações australianas e neozelandesas de que o pacto poderia causar instabilidade na segurança da região.

Nesta terça-feira (19), o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que o acordo já foi assinado, de acordo com o jornal britânico Guardian. Ele não especificou quando e onde ocorreu a assinatura, que também foi confirmada pela embaixada chinesa em Honiara.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China.

Com população de cerca de 700 mil pessoas, a nação insular fica localizada em território estratégico, bem no centro de um cabo de guerra geopolítico. O país tem se aproximado de Beijing desde 2019, quando mudou o reconhecimento diplomático de Taiwan para a China, sublinhando a crescente influência chinesa em uma região que era tradicionalmente dominada por EUA e Austrália.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

Tags: