Austrália prende ex-piloto norte-americano suspeito de treinar militares chineses

Acusado, que enfrenta um pedido de extradição, vivia na China desde 2017 e atuava em uma empresa de 'consultoria de aviação'

A polícia federal da Austrália prendeu na última sexta-feira (21) o norte-americano Daniel Edmund Duggan, ex-piloto da força aérea dos EUA, que agora aguarda uma decisão judicial a respeito de um pedido de extradição. Ele é suspeito de atuar como instrutor de pilotos das forças armadas da China, de acordo com informações da agência Reuters.

O acusado participou no mesmo dia da prisão de uma audiência, na qual foi negada a fiança. Ele era alvo de um mandado de prisão internacional, com pedido de extradição, emitido pela Justiça norte-americana. Agora, aguarda uma nova audiência que ocorrerá em novembro.

Um porta-voz da Procuradoria-Geral da Austrália confirmou a prisão e disse que não tem autorização para dar maiores detalhes, vez que o processo corre em segredo de justiça. Portanto, não está claro quais as acusações que correm contra o ex-piloto.

Treinamento em jato F-35 da força aérea dos EUA, maio de 2019 (Foto: Public Domain/Robert Sullivan)

Entretanto, segundo uma fonte do setor de aviação dos EUA, o FBI, a polícia federal norte-americana, já havia procurado Duggan para conversar sobre os serviços prestados por ele a Beijing.

Na Austrália, ele foi dono de uma empresa que oferece a turistas voos em jatos de combate. Em 2014, vendeu o negócio e três anos depois se mudou para Qingdao, na China. Desde então, era diretor da AVIBIZ Limited, de Hong Kong, descrita como “uma empresa de consultoria de aviação abrangente com foco no rápido e dinâmico setor de aviação chinês”.

Ex-pilotos a serviço da China

Na semana passada, autoridades ocidentais revelaram que a China tem recrutado ex-pilotos das forças armadas de diversos países para que atuem como instrutores de militares chineses. Ao menos 30 britânicos foram recrutados para esta operação, mas há relatos de que cidadãos de outros países também fazem parte do processo.

De acordo com uma fonte que prefere ter a identidade preservada, Beijing chega a oferecer pacotes de US$ 270 mil (R$ 1,42 milhão) para seduzir os instrutores. Embora o treinamento não configure crime da parte dos ex-pilotos britânicos, o Ministério da Defesa do Reino Unido tem atuado para coibir a prática.

O conhecimento dos instrutores é usado para ensinar aos chineses como atuam os pilotos ocidentais, algo que seria útil em um eventual conflito entre os dois lados. E essa possibilidade torna-se cada vez menos improvável diante da tensão atrelada à questão de Taiwan.

Como a legislação britânica atual não impede tal atividade, o governo local trabalha para mudar esse cenário. Cláusulas e acordos de confidencialidade assinados com os militares do Reino Unido tendem a ser alterados de forma a impedir que eles venham a transmitir informações aos chineses no futuro.

Os primeiros casos teriam sido registrados em 2019 e foram tratados individualmente por Londres. A operação perdeu força em meio à pandemia de Covid-19, mas agora tem aumentado significativamente, segundo outra fonte com conhecimento aprofundado sobre o ocorrido.

Há relatos de que ex-militares de outras nações ocidentais também têm recebido propostas de Beijing através de recrutadores de uma empresa da África do Sul.

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