Biblioteca em Hong Kong exige registro para acessar obras politicamente sensíveis

Novas regras tendem a desencorajar o estudo de temas mais sensíveis, como o movimento democrático, segundo pesquisador

Em Hong Kong, a biblioteca da principal universidade do território semiautônomo introduziu um novo sistema no qual os leitores devem se registrar com antecedência para retirar livros e acessar materiais de temas politicamente sensíveis. O objetivo parece ser o de restringir o acesso a títulos pró-democracia. As informações são do jornal South China Morning Post.

De acordo com um pesquisador local, que falou sob condição de anonimato, a medida, que já ocorre de forma semelhante em bibliotecas públicas da cidade, que removeram algumas obras, pode dificultar o estudo de temas tidos como “espinhosos” pelo governo chinês.

O novo sistema foi implantando no espaço conhecido como Coleções Especiais da Universidade de Hong Kong (HKU), seção que fica separada por uma parede de vidro dentro do prédio da Biblioteca Principal. A área “abriga uma coleção única de materiais de Hong Kong, livros raros e microformas”, de acordo com o site da HKU. 

Biblioteca da Universidade de Hong Kong: obras sensíveis na mira do governo (Foto: Can Pac Swire/Flickr)

Alegando “substituição da unidade de tratamento de ar e do desumidificador”, a universidade fechou o espaço entre os meses de fevereiro e abril. Nenhuma alteração no acesso dos usuários da biblioteca à seção havia sido comunicada antes do fechamento.

 Agora, os visitantes são obrigados a registrar os livros que desejavam consultar no balcão. Para tirar uma simples foto de um livro com o smartphone, é necessário antes preencher um formulário, detalhando o conceito da obra e a quantidade de imagens que serão captadas. Nada disso era necessário antes.

Segundo a reitoria, as mudanças ocorreram “para proteger e preservar efetivamente os materiais frágeis e insubstituíveis para futuras gerações de acadêmicos”.

Entre as obras consideradas “sensíveis” estão cinco livros escritos por ativistas ou que tratam sobre o Massacre da Paz Celestial em 1989, disponíveis apenas na seção Coleções Especiais.

Separadamente, as bibliotecas públicas da cidade removeram 29 dos 149 livros sobre a repressão de Tiananmen de suas prateleiras, um total de 263 cópias individuais. Bibliotecas de escolas primárias e secundárias igualmente retiraram das prateleiras livros que abordam temas que vão desde introduções ao sistema eleitoral da cidade até obras que relatam eventos históricos sobre a Revolução Cultural.

“A biblioteca ainda registra quem emprestou o quê e quando, eles até coletam quais cópias os pesquisadores fizeram. A percepção de estar sendo monitorado ainda existe e pode desencorajar os pesquisadores de buscar determinados temas sensíveis”, disse o pesquisador.

Ele definiu a nova política como “desproporcional”, já que abrange toda a Coleção Especial, que contêm materiais não sensíveis. “É definitivamente um obstáculo desnecessário para a comunidade de pesquisa”, lamentou.

Por que isso importa?

Livros de figuras pró-democracia começaram a ser retirados de bibliotecas públicas de Hong Kong em 2020. As obras passaram por um processo de revisão para concluir se violam a lei de segurança aprovada pela China em maio daquele ano.

lei aprovada pelo Congresso da China aumentou o controle chinês sobre a ex-colônia britânica, criada para suprimir qualquer ato que possa “ameaçar a segurança nacional”.

À época, nove livros entraram na lista de “revisão”, como títulos escritos por Joshua Wong, proeminente ativista pró-democracia, e pela política Tanya Chan.

Desde que a lei entrou em vigor, vários importantes ativistas a favor da democracia se afastaram de suas funções. Um deles, o líder estudantil e legislador local Nathan Law, fugiu do território.

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