Dois blogueiros chineses exilados alertaram nesta semana que a polícia tem realizado um pente-fino nas suas listas de seguidores em grandes plataformas de mídia social. No que parece ser mais uma ação de Beijing para reprimir a liberdade de expressão além das fronteiras do país, indivíduos dizem ter sido assediados pelas autoridades, segundo a rede Voice of America (VOA).
Wang Zhian, ex-jornalista da emissora estatal CCTV, e Li Ying, um artista chinês dissidente, ambos conhecidos por compartilhar notícias não veiculadas na China por questões de censura, pediram aos seguidores que adotem medidas de precaução, como deixar de segui-los e evitar o uso de celulares de fabricação chinesa, sob o risco de terem que prestar contas às autoridades.
Li, conhecido nas redes como “Professor Li”, ganhou notoriedade durante o “Movimento do Livro Branco” em 2022, quando gerenciava uma conta anônima no antigo Twitter, hoje X. O movimento, surgido na pandemia, foi assim simbolicamente chamado porque os manifestantes seguravam folhas de papel em branco durante os protestos, uma forma de denunciar a censura imposta pelo regime.
O perfil compartilhou vídeos de protestos enviados anonimamente por pessoas na China que temiam se manifestar abertamente e optaram por não ir às ruas no final de novembro daquele ano para desafiar a repressão estatal e protestar contra a rigidez da política “Zero Covid” de Beijing.
Atualmente, o perfil do Professor Li, @whyyoutouzhele, compartilha conteúdo censurado da China, incluindo vídeos de protestos locais, entre eles situações que envolvem a crise imobiliária no país, e incidentes reais de repressão. Em uma postagem recente, Li orientou seus seguidores a dar o “unfollow”, já que a polícia estava verificando cada um dos 1,6 milhão de seguidores e comentários em sua conta.
Li compartilhou prints de mensagens privadas de seguidores que vivem na China e foram interrogados pela polícia. Um deles relatou ter perdido o emprego. Na segunda-feira (26), o número de seguidores do blogueiro no X havia caído para 1,4 milhão.
Plataformas internacionais como X e YouTube são bloqueadas na China, mas ainda são acessíveis através de software que contornam a proibição.
Já Wang, que tem um milhão de assinantes no X e 1,2 milhão no YouTube, também incentivou seu público a cancelar a assinatura.
O Ministério das Relações Exteriores da China não comentou os casos.
Repressão digital
A ONG Freedom House, sediada em Washington, nos EUA, divulgou em outubro do ano passado a edição 2023 de seu ranking de liberdade na internet. Entre os 70 países analisados, a lista tem a China em último lugar, seguida de perto por Mianmar e Irã.
Recentemente, Beijing ampliou seus esforços para monitorar plataformas estrangeiras como Facebook, Telegram e X. Documentos vazados da empresa privada I-Soon, responsável por desenvolver ferramentas de vigilância e monitoramento de atividades nas redes sociais e associada à principal agência de polícia da China, revelaram ferramentas usadas para reprimir a dissidência online, incluindo uma para monitorar usuários do antigo Twitter.
O vazamento indica que hackers a serviço de Beijing e da I-Soon são capazes de invadir contas de e-mail, ocultar as atividades de outros agentes estatais na internet, difundir conteúdo do interesse do Partido Comunista Chinês (PCC), inutilizar redes de Wi-Fi e até invadir sistemas de governos estrangeiros, esta última uma acusação cada vez mais frequente contra o governo da China.
O governo chinês tem entre seus alvos preferenciais indivíduos visados pelas autoridades e vistos como uma ameaça à segurança nacional. Cidadãos chineses provenientes de regiões onde Beijing identifica alto potencial de dissidência tendem a ser mais vigiados. O principal foco é Xinjiang, onde vivem os uigures, uma minoria étnica muçulmana perseguida pelo governo.