China ainda não soltou dissidentes presos antes do Congresso do Partido Comunista

A polícia montou operações de "manutenção de estabilidade" em uma escala sem precedentes durante o recente congresso do partido, que colocou opositores em férias forçadas

A polícia chinesa ainda não liberou as chamadas “pessoas de interesse” da prisão domiciliar e de outras restrições após o 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), encerrado no domingo (23). As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

Para garantir estabilidade social no crucial evento político, Beijing expulsou da cidade os críticos do governo, evidenciando um movimento crescente de censura e de perseguição a dissidentes, peticionários e ativistas de direitos em todo o país.

As medidas de segurança aplicadas atualmente pela China às vésperas de eventos políticos importantes parecem ainda mais rigorosas do que já foi visto em anos anteriores. Entre as “personas non gratas” nesse tipo de atmosfera está a jornalista política independente Gao Yu. Ela conta que foi obrigada a tirar “férias forçadas” por mais de duas semanas antes do congresso que deu mais um mandato a Xi Jinping

Protesto contra o PCC em frente ao consulado chinês em Toronto, no Canadá (Foto: Twitter/Reprodução)

“Faz 16 dias hoje”, contou Gao à reportagem da RFA na segunda-feira (25). A jornalista ainda revelou que estava com medicação insuficiente para o período “sabático” imposto pelo Estado. 

“Achei que poderia voltar para casa depois que o congresso do partido terminasse, então, trouxe só para 14 dias”, contou. Gao disse que pediu para ir para casa nesse período, justificando que precisava ir ao hospital para uma consulta de acompanhamento.

Trabalhadores migrantes também estiveram na mira das autoridades. A polícia de segurança do Estado coordenou batidas em massa contra populações migrantes nos arredores da capital.

Além de afastar pessoas de interesse, de modo a controlar o “ativismo potencial”, o governo também proibiu voos de aeronaves leves e ultraleves, planadores, asas delta, balões de ar quente, dirigíveis, parapentes, drones e aeromodelos, informou o departamento de polícia municipal no dia 15 de outubro.

Controle social

Esse tipo de operação teve aumento vertiginoso no governo Xi Jinping, iniciado em 2012. O regime estabeleceu inúmeras agências e comitês de aplicação da lei, incluindo a polícia de segurança do Estado, que está no encalço de ativistas, dissidentes políticos, religiosos e grupos étnicos minoritários tidos como “ameaças potenciais” à estabilidade social.

Uma das grandes preocupações pré-Congresso era em relação a uma possível agitação social por conta de temores quanto a um novo lockdown por conta da Covid-19. Particularmente após um raro protesto que gerou vídeos nas redes sociais locais, com imagens mostrando dois cartazes com mensagens pró-liberdade e antigoverno pendurados em um viaduto de uma importante via em Beijing. 

O custo do controle social estatal é alto. Apesar de o PCC não ser transparente quanto aos gastos com a manutenção da estabilidade nos orçamentos anuais, especialistas apontam que a cifra triplicou sob a mão do atual líder, indo para um valor aproximado de 1 trilhão de yuans (R$ 745,7 bilhões).

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