Protestos e temor de novo lockdown geram apreensão na China antes de Congresso

Imagens nas redes sociais mostram faixas com mensagens de protesto penduradas em viaduto no coração de Beijing

A poucos dias de um crucial evento político que pode alçar o presidente Xi Jinping ao terceiro mandato e em meio a temores quanto a um novo bloqueio sanitário em Xangai por conta da Covid-19, a China registrou um raro protesto contra seu governo de partido único nesta quinta-feira (13). As informações são do jornal britânico Guardian.

Às vésperas do 20º Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC), que tem início no domingo (16), fotos e vídeos foram publicados nas redes sociais locais mostrando dois cartazes com mensagens pró-liberdade e antigoverno pendurados em um viaduto de uma importante via em Beijing. No mesmo cenário, é possível ver nuvens de fumaça saindo da ponte.

“Queremos comida, não testes de PCR. Queremos liberdade, não bloqueios. Queremos respeito, não mentiras. Queremos uma reforma, não uma revolução cultural. Queremos o voto, não um líder. Queremos ser cidadãos, não escravos”, diz uma das faixas pendurada. Uma segunda faixa pedia boicote às escolas, greves e a remoção de Xi. 

Faixa com mensagens de protesto penduradas em viaduto no coração de Beijing (Foto: reprodução/Twitter)

Protestos políticos no país são atos incomuns e considerados ousados, considerando a repressão estatal vigente. Particularmente sob o contexto de um ato político grandioso, como o Congresso do PCC, que ocorre a cada cinco anos.

Tanto que, para evitar problemas na edição 2022, Beijing desapareceu com oposicionistas que poderiam potencialmente causar agitação social. Eles foram retirados da capital com prazo de retorno só 15 dias após o evento, o que ilustra um crescimento vertiginoso da censura e da perseguição a dissidentes, peticionários e ativistas de direitos em todo o país.

Além disso, o retorno de um pesadelo recente, as restrições contra o coronavírus em Xangai, alimentou temores de que a cidade, que viu um prolongado lockdown, possa ter de encarar um novo e rígido bloqueio pautado pela política de “Covid Zero”, já que as autoridades trabalham na contenção de surtos com vistas ao congresso. Em março, medidas draconianas por lá trancaram milhões de pessoas em casa e supostamente levaram à morte cidadãos impedidos de sair de casa para o tratamento de outras doenças.

No entanto, o governo local garante que não há fechamento ou bloqueio em massa das escolas. Nas ruas e redes sociais, a conversa é outra: há relatos de pessoas presas em casa, saídas de incêndio trancadas e bloqueios no comércio. Em meio a esse cenário, Xangai registrou apenas três casos transmitidos localmente e 44 casos assintomáticos na quarta-feira (12).

Tendo como base os parâmetros globais, os números de casos da China são baixos. Desde segunda-feira (10), a comissão de saúde da China relatou 1.120 casos confirmados e 4.202 casos assintomáticos. A maioria foi registrada em Xinjiang, que passa por severas restrições de bloqueio nos últimos meses. Mesmo diante desse quadro, o governo prometeu uma estratégia para conter e eliminar todos os surtos.

Por que isso importa?

No próximo domingo (16), a China iniciará seu 20º Congresso, que entre outras questões deve confirmar o inédito terceiro mandato para o presidente Xi Jinping, consolidando ainda mais o poder do líder nacional. Para a ONG Human Rights Watch (HRW), a decisão é “um mau presságio para os direitos humanos”, tornando necessária uma ação global para punir Beijing em virtude dos abusos.

“O terceiro mandato do presidente Xi, que quebra precedentes, é um mau presságio para os direitos humanos na China e em todo o mundo”, disse Yaqiu Wang, pesquisador sênior da China na HRW. “Como o espaço para o ativismo da sociedade civil diminuiu ainda mais na China, é imperativo que a comunidade internacional tome ações consequentes para restringir os abusos de Xi”.

Entre as situações domésticas que exigem atenção estão os radicais bloqueios contra a Covid-19 estabelecidos pelo governo chinês. “As medidas draconianas impediram o acesso das pessoas a cuidados de saúde, alimentação e outras necessidades vitais. Um número desconhecido de pessoas morreu após ter sido negado tratamento médico para suas doenças não relacionadas à Covid”, diz a ONG.

Tags: