China busca amplo acordo de cooperação com dez nações do Pacífico

Documento vazado sugere as intenções de Beijing de controlar e “ameaçar a estabilidade” da região, segundo um dos participantes

A China busca fechar um amplo acordo regional de comércio e segurança com dez nações insulares do Pacífico, que cobriria policiamento, pesca e cibersegurança. O assunto será tratado em Fiji na semana que vem, durante encontro articulado pelo ministro de Relações Exteriores chinês, Wang Yi. As informações são do jornal britânico Guardian.

Um esboço do pacto foi vazado. O documento, que detalha ações previstas na região para um período de cinco anos, foi enviado a dez países do Pacífico antes da viagem de Wang, que se reunirá com líderes regionais na segunda-feira (30). O plano, segundo uma das nações convidadas, descortina as intenções de Beijing de controlar a região e “ameaçar a estabilidade regional”.

Uma cópia obtida pela agência Reuters mostra que a China propõe às nações insulares que “fortaleçam os intercâmbios e a cooperação nos campos da segurança tradicional e não tradicional”. Com base no pacto, a nação asiática realizaria “treinamento policial de nível intermediário e alto para os países das ilhas do Pacífico por meios bilaterais e multilaterais”.

O ministro de Relações Exteriores da China, Wang Yi (Foto: WikiCommons)

A missão de Wang pelo Pacífico tem início nesta quinta-feira (26) e segue até o dia 4 de junho. Na agenda do ministro estão previstas visitas a oito países com os quais a China mantém laços diplomáticos.

O primeiro compromisso do ministro é nas Ilhas Salomão, que recentemente assinou um pacto de segurança com Beijing. O aperto de mãos entre os países gerou desconfiança e objeções de Austrália, EUA, Japão e Nova Zelândia, receosos de que essa aproximação possa estremecer os acordos de segurança regional e resultar na construção de uma base militar chinesa no Pacífico.

O Indo-Pacífico tem preocupações com a influência da China, que aumentou vertiginosamente de uns tempos para cá. No entanto, o governo chinês rechaça essas alegações, sustentando que o acordo está concentrado na segurança, especialmente no suporte policial e militar, e que as críticas do Ocidente estão “interferindo na tomada de decisões soberanas das Ilha Salomão”.

Penny Wong, nova ministra das Relações Exteriores da Austrália, disse nesta quarta-feira (25) que “o plano da China para o Pacífico é ‘claro’, mas também é a intenção da Austrália de ser um parceiro regional”.

Penny viaja para Fiji nesta quinta, em um sinal de sua determinação em aprofundar o relacionamento com os países do Pacífico, segundo o Guardian. O discurso dela, em sintonia com o Partido Trabalhista, é de “uma família do Pacífico mais forte”.

Wong afirmou que o novo governo australiano tem muito trabalho a fazer para recuperar o status da Austrália como o parceiro no Pacífico após uma “década perdida” de governo da Coalizão.

O acordo

Um acordo regional de segurança e comércio entre a China e as ilhas do Pacífico representaria uma mudança no foco de Beijing em suas relações bilaterais com a região. É isso que causa preocupações entre EUA e seus aliados.

O projeto prevê cooperação em redes de dados, segurança cibernética e sistemas alfandegários inteligentes. E propõe que as ilhas do Pacífico “adotem uma abordagem equilibrada ao progresso tecnológico, desenvolvimento econômico e proteção da segurança nacional”.

O acordo de cooperação também poderia abrir espaço para as redes 5G da gigante chinesa das telecomunicações Huawei, impedida de construir cabos submarinos ou operar redes móveis nas ilhas do Pacífico pela Austrália e pelos EUA devido a alegações de espionagem em favor de Beijing.

O presidente dos Estados Federados da Micronésia, David Panuelo, um aliado de Washington, mencionou a ameaça de as ilhas do Pacífico se envolverem em um conflito geopolítico ao passo que a atmosfera de turbulência entre os EUA e a China piora devido à questão Taiwan.

“Os impactos práticos, no entanto, do controle chinês sobre nossa infraestrutura de comunicações, nosso território oceânico e os recursos dentro deles, e nosso espaço de segurança, além dos impactos em nossa soberania, é que aumenta as chances de a China entrar em conflito com a Austrália, Japão, Estados Unidos e Nova Zelândia”, alertou.

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