China faz operação preventiva contra dissidentes antes de evento do Partido Comunista

Autoridades retiram oposicionistas de casa à força ou impõem prisão domiciliar às vésperas de reunião anual do governo

Na próxima semana, a elite política da China se reunirá em Beijing para o que é popularmente conhecido como “Duas Sessões”, debates legislativos que estabelecem a agenda política anual do Partido Comunista Chinês (PCC). Às vésperas do evento, as autoridades têm realizado uma já habitual operação preventiva de segurança contra proeminentes dissidentes, que são vigiados, retirados de casa à força ou obrigados a cumprir prisão domiciliar. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

As medidas de segurança são mais rígidas em Beijing, sede do evento, e nas proximidades da capital. Mas há relatos de ações repressivas preventivas em todo o país, com oposicionistas colocados sob vigilância em várias províncias, como Hebei, Jiangsu e Guizhou.

“Conforme se aproxima a época das ‘Duas Sessões’, morar em Beijing fica realmente insuportável. Hoje, os guardas de segurança nacional de todos os distritos de Beijing foram enviados novamente”, disse através da rede social X a jornalista Gao Yu, alvo frequente das forças de segurança e que já foi presa em razão de seu trabalho jornalístico.

Gao relatou o caso de um dissidente, identificado como SYP, que esteve em Beijing e foi acompanhado por agentes de segurança até quando saiu para almoçar. Segundo ela, o objetivo era evitar que o indivíduo se encontrasse com colaboradores. “Como os habitantes de Beijing podem continuar vivendo suas vidas normais?”, questionou a jornalista.

Já o ativista Ji Feng disse ter sido informado de que será retirado de casa pela polícia e levado para “férias” forçadas longe de Beijing. “Eles disseram que eu não precisava saber quanto tempo isso iria durar”, relatou o homem, segundo o qual até um roteiro de viagem foi preparado pelas autoridades.

Paralelamente, ocorre também uma grande ação para expulsar da capital pessoas provenientes de outras partes da China que estão em Beijing. Um cidadão local, que pediu para ter a identidade preservada, disse que o plano é retirar da cidade entre 600 mil e 700 mil migrantes internos.

Congresso do Partido Comunista Chinês em 2012 (Foto: Wikimedia Commons)

Entrar na cidade durante o evento legislativo é uma missão desafiadora, com as autoridades exigindo autorização especial dos veículos e interrogando cidadãos. Indivíduos que já vinham sendo monitorados e manifestaram a intenção de ir a Beijing, mesmo que o tenham feito em conversas telefônicas privadas, relataram ter sido abordados pela polícia para dar explicações.

As medidas de segurança aplicadas atualmente pela China às vésperas de eventos políticos importantes aumentaram vertiginosamente no governo Xi Jinping, iniciado em 2012. O regime criou novas agências e comitês de aplicação da lei, incluindo a polícia de segurança do Estado, que está no encalço de ativistas, dissidentes, grupos étnicos minoritários e religiosos, todos considerados “ameaças potenciais” à estabilidade social.

As Duas Sessões

O evento legislativo terá início na segunda-feira (4), com a presença de cerca de dois mil membros do PCC, e a segunda sessão começa na terça (5), sem data para terminar. Segundo o jornal South China Morning Post (SCMP), os debates devem girar em torno dos atuais desafios econômicos enfrentados pelo governo chinês e da queda de natalidade, que levou a um preocupante envelhecimento da população,

Tags: