China fez megaoperação de repressão religiosa em Xinjiang durante feriado muçulmano

Para evitar manifestações da fé islâmica, uigures foram vigiados, forçados a ver filmes patrióticos e tiveram as casas invadidas

As autoridades chinesas da região de Xinjiang realizaram uma megaoperação de repressão religiosa durante o recente feriado muçulmano de Eid al-Adha, ou Festa do Sacrifício, que neste ano aconteceu no dia 17 de junho. Os fieis foram alvo de uma série de medidas com viés patriótico, parte de um processo mais amplo de “sinicização” da fé de Beijing. As informações são da rede Radio Free Asia (RFA).

Durante a data religiosa, acampamentos foram montados para vigiar os uigures, uma minoria étnica muçulmana que enfrenta discriminação da sociedade e é alvo de violenta repressão por parte do governo chinês. Alguns tiveram suas casas invadidas pelas autoridades, para impedir que houvesse orações ou outra manifestação religiosa. E houve que tenha sido forçado a assistir a filmes com temas patrióticos e atrelados à ideologia do Partido Comunista Chinês (PCC).

Mercado muçulmano em Xinjiang, frequentado pela minoria uigur (Foto: Maxpixel/Divulgação)

“Parece que eles estão tentando sinicizar o Eid”, disse Erkin Ekrem, professor da Universidade Hacettepe de Ancara, Turquia, e vice-presidente do Congresso Mundial Uigur, referindo-se ao processo estabelecido pelo presidente Xi Jinping para colocar inclusive a religião sob o guarda-chuva do PCC.

“O governo chinês está tentando mudar os costumes, orações e tradições do Eid, para que os uigures consumam alimentos junto com os chineses. E adicionando elementos chineses aos festivais do Eid, removendo assim os elementos muçulmanos”, acrescentou o especialista.

Xi jamais escondeu a intenção de controlar a fé na China. No início de dezembro de 2021, no Encontro Nacional Sobre Assuntos Religiosos do PCC, ele afirmou que o governo deve “manter o trabalho religioso na direção essencial do partido” e “direcionar o país para a sinicização da religião.”

A repressão religiosa, embora ocorra em todo o país é particularmente dura em Xinjiang, devido à perseguição aos uigures. Porém, diferente da “sinicização” da fé, que é tratada abertamente por Beijing, a repressão à minoria étnica é um tabu. O governo refuta as acusações e argumenta que isola e vigia a etnia muçulmana em prol da “segurança nacional”, sob a justificativa de evitar a radicalização dos fiéis.

Em agosto de 2022, a ONU (Organização das Nações Unidas) divulgou um aguardado relatório que fala em “graves violações dos direitos humanos” em Xinjiang e destaca “padrões de tortura ou maus-tratos, incluindo tratamento médico forçado e condições adversas de detenção”, bem como “alegações de incidentes individuais de violência sexual e de gênero”.

Para determinados países ocidentais, a ação da China é ainda mais grave e configura “genocídio”. O governo do presidente norte-americano Joe Biden foi o primeiro a usar o termo para descrever as ações contra os uigures, seguido por aliados como Reino Unido, Canadá e, mais recentemente, a Lituânia.

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