China recebe equipe da ONU em prévia da visita oficial a Xinjiang, em maio

Se confirmada a visita de maio, Michelle Bachelet será a primeira alta comissária da ONU a visitar a China em 17 anos

Uma comissão de representantes da ONU (Organização das Nações Unidas) está na China, a convite do governo local. A viagem serve para preparar o terreno com vistas a uma visita oficial, marcada para maio, à região de Xinjiang, no noroeste do país. As informações são do jornal South China Morning Post.

Antes de ir a Xinjiang, a comitiva de cinco membros passou por um período de quarentena na cidade de Guangzhou, devido à Covid-19. Diferente desta visita preliminar, a do mês que vem tem contornos históricos, vez que a chefe de direitos humanos da ONU, Michelle Bachelet, será a primeira alta comissária na China em 17 anos.

A chilena vem tentando há tempos entrar na província, a fim de averiguar denúncias de genocídio contra a minoria uigur. Tal questão é tida como um dos motivos do estremecimento das relações entre Beijing e o Ocidente.

Vista aérea de Urumqi, capital da província chinesa de Xinjiang, em julho de 2017 (Foto: WikiCommons/ Anagoria)

Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, confirmou a chegada da equipe da ONU, na segunda-feira (25). “O que quero dizer é que o objetivo da visita da alta comissária para os direitos humanos é promover o intercâmbio e a cooperação entre os dois lados”, disse ele. “Sempre nos opusemos ao uso desse assunto para manipulação política”.

O grande impasse para que a visita fosse confirmada eram as condições. Bachelet sempre exigiu “acesso irrestrito e significativo, incluindo entrevistas não supervisionadas com a sociedade civil”.

Por que isso importa?

A província de Xinjiang, no noroeste da China, faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. .

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele.

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