China rejeita aumento de preço, tem energia cortada e vê relação com a Rússia estremecer

Beijing enfrenta problemas no setor elétrico devido à seca e a limitações na produção de carvão, vendo a Rússia como uma fonte primordial

A Inter RAO, empresa de energia estatal da Rússia, está limitando o fornecimento de eletricidade para a China depois que Beijing se recusou a pagar um preço mais alto. Isso acontece em um momento complicado para os parceiros comerciais: enquanto o gigante asiático enfrenta problemas de eletricidade devido à seca e limitações na produção de carvão, Moscou luta contra a desvalorização da moeda, que afetou suas receitas de exportação. As informações são da revista Newsweek.

A companhia explicou que, devido aos novos impostos de exportação em vigor desde 1º de outubro, os preços da eletricidade subirão em 7% para os clientes na China, Mongólia, Azerbaijão e na região separatista da Ossétia do Sul, na Geórgia.

Em agosto, um representante da estatal russa, Alexandra Panina, havia alertado que, se Beijing recusasse o preço, o fornecimento de eletricidade poderia ser interrompido completamente. No entanto, um porta-voz da Inter RAO informou à agência Reuters que as negociações com a China estão em andamento e que restrições parciais ocorreriam a partir desta terça-feira (3). A Mongólia concordou com o aumento de preços proposto.

Vladimir Putin e Xi Jinping conversam por videoconferência em dezembro de 2022 (Foto: WikiCommons)

A redução no fornecimento deve causar impactos significativos aos chineses, considerando que em 2022 a China se tornou o maior mercado para as exportações de eletricidade da Rússia, recebendo um recorde de 4,7 bilhões de kWh, conforme relatado pela agência de notícias estatal russa Tass.

Nesse cenário de reajuste, um especialista ouvido pela reportagem disse que a China está adotando uma postura de negociação dura em relação às demandas da Rússia e está em uma posição de negociação vantajosa, já que a cooperação econômica entre as nações cresceu após o início da guerra no leste europeu.

Thomas O’Donnell, um analista de geopolítica e energia baseado em Berlim e membro do think tank Wilson Center, afirmou que as empresas de energia chinesas e o governo chinês sempre foram conhecidos por serem persistentes e pacientes nas negociações com a Rússia sobre eletricidade.

Ele explicou que Beijing conseguiu vantagens significativas ao pressionar Moscou quando esta enfrentava dificuldades para exportar petróleo e gás. Isso resultou em preços favoráveis da produção russa para a China, especialmente após os problemas de Vladimir Putin no mercado europeu começarem por conta de embargos.

As sanções ocidentais contra Moscou, executadas logo após a invasão em larga escala da Ucrânia em fevereiro de 2022 obrigaram o Kremlin a buscar outros mercados comerciais, categorizando países como “amigáveis” e “não amigáveis”. Isso solidificou os laços entre russos e chineses, que entraram em uma “nova era“.

A frente consistente para enfrentar o Ocidente foi inclusive elogiada pelo presidente russo durante a visita de Xi Jinping a Moscou em março, no qual os dois aliados alimentaram a perspectiva de estabelecerem juntos uma nova ordem mundial. 

O’Donnell também mencionou que a relutância da China em pagar preços mais altos pela eletricidade russa indica que, devido à crise no setor de energia local, o país pode optar por aumentar a importação de gás natural liquefeito (GNL) para geração de energia de forma mais agressiva.

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